quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Paços de Ferreira e o fim de um recorde

O Benfica perdeu em Paços de Ferreira. Um resultado que, face ao que se passou em campo, é perfeitamente aceitável, diga-se. Foi apenas a terceira perda de pontos dos encarnados na competição, depois do empate na Luz frente ao Sporting e da derrota em Braga, frente ao Sporting de Braga.

Este registo valoriza ainda mais a vitória de hoje do Paços. Uma equipa muito bem orientada por Paulo Fonseca, que tem mostrado que a sua passagem falhada pelo Porto foi apenas um momento menos feliz da sua carreira. O seu Paços, tal como o Paços da sua primeira passagem pelo clube, é uma equipa que joga "à grande". Uma equipa muito organizada em todos os momentos do jogo, uma equipa que conhece bem os fundamentos do jogo e que consegue colocá-los em prática, e uma equipa que retira um grande rendimento de todos os seus jogadores, pois consegue pegar nas características individuais de cada atleta, e uni-las através de ideias comuns e transversais a todos. Só assim se explica que o treinador possa, por exemplo, colocar um médio de raiz (Romeu) no eixo defensivo, e ainda assim não se notar diferença em termos de rendimento.

Nada neste Paços parece ser feito ao acaso. A equipa dispõe-se principalmente num 4x4x2, sendo que no momento ofensivo é frequente passar a um 4x2x3x1, com o 9 (quer Cícero, quer Bruno Moreira) a funcionar como a referência na frente, maioritariamente para as bolas longas dos defesas, e com um segundo jogador que, dependendo das suas próprias características, tanto funciona como 10 ou como segundo avançado. No caso de ontem, foi a segunda opção, com a inclusão de Edson Farias no 11. Mas essencialmente, tudo neste Paços roda à volta de dois jogadores que actuam lado a lado na zona central do terreno e que são fulcrais para o modelo de jogo: Sérgio Oliveira e Seri. Com funções semelhantes dentro do modelo, são, no entanto, jogadores com perfis ligeiramente diferentes, e complementam-se quase na perfeição, dando à equipa grande qualidade nas fases de construção e no momento de organização ofensiva. É muito graças a eles que o Paços consegue adoptar a postura de "grande" em campo. O Sérgio é a referência na construção, o jogador que dá critério à posse da equipa e que liga a equipa através do passe. É hoje um dos bons valores portugueses da Liga e, a confirmarem-se os rumores de que voltará ao Porto na próxima temporada, terá uma segunda oportunidade para poder mostrar, na casa que o lançou para o futebol, o valor que lhe é reconhecido desde muito cedo na sua carreira. Já o Seri (que, curiosamente, também chegou ao futebol português através do Porto) é o médio de ligação entre sectores desta equipa. Um pequeno grande jogador de 1,68m, com um pulmão inesgotável, muito forte no preenchimento de espaços e que possui também várias valências ao nível técnico e do passe. O seu estilo de jogo, mais baseado no aspecto físico (corre vários quilómetros em todos os jogos, e sobretudo, sabe como, quando e para onde correr) complementa muito bem o estilo mais técnico e requintado do Sérgio. Uma das duplas mais interessantes da Liga.

Uma equipa que vale a pena seguir com atenção, este Paços. Quanto ao Benfica, destaque para um aspecto que me parece ter tido muita influência na derrota da equipa: a ausência de Gaitán. É impressionante a falta que o craque argentino faz a este Benfica, sobretudo ao nível da criatividade e da criação de oportunidades de golo. Em Paços de Ferreira, as soluções ofensivas do Benfica resumiram-se, quase sempre, a cruzamentos para a área. E aí, sem uma clara referência no jogo aéreo (Jonas e Lima, apesar de competentes nesse aspecto do jogo, não se destacam pela sua capacidade de ganhar bolas no ar), a defesa do Paços foi conseguindo, com maior ou menor dificuldade, resolver todos os lances. Perante isto, o Benfica foi incapaz de encontrar soluções ofensivas para chegar à baliza pacense. E isto também ajuda a explicar o fim de um recorde assinalável e que já durava desde Abril de 2012: com o nulo deste jogo, o Benfica quebrou uma série de 81 (!) jogos sempre a marcar.

E eis que, quando se pensava que o campeonato poderia começar a resolver-se, este volta a estar em aberto e, com a segunda metade da época pela frente, certamente que ainda teremos direito a assistir a muitas voltas e reviravoltas.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Até sempre, Román...

Hoje o meu dia começou assim: "Riquelme anuncia retirada".

Não posso dizer que tenha sido a melhor forma de iniciar uma segunda-feira de Inverno fria mas solarenga. Talvez este dia tenha sido o melhor para ser anunciado um acontecimento deste género. O choque gélido de saber que um dos teus ídolos futebolísticos acaba de se retirar pode ser atenuado graças a um céu azul e um sol brilhante lá em cima.

Riquelme não foi propriamente o melhor jogador do Mundo. Toda a gente sabe isso. Talvez condicionado por números e estatísticas cada vez mais dominantes no futebol actual, o seu talento nunca se encontrou com dados quantitativos que sustentassem a qualidade evidente nos seus pés e na sua cabeça.

Riquelme para mim é daqueles segredos misteriosos da vida, que estão acompanhados com uma convicção absoluta de algo que é só inerentemente nosso. Algo que só nós percebemos, algo que só nós sentimos, algo cuja cumplicidade é naturalmente recíproca. Aquela certeza absoluta, arrogante e altiva que temos e que também sabemos que só nós entendemos... Riquelme é isto.

Riquelme é magia pura, é futebol desde os pitons da chuteira até à ponta do cabelo. Riquelme é um verdadeiro Deus no futebol por saber tornar algo difícil em momentos simples.


Riquelme é a minha inspiração desde os meus 13 anos, altura em que me aconselharam a ver "um nº10 tal e qual como tu". O meu jeito para o futebol não é sequer comparável ao estilo de futebolista que Riquelme foi durante toda a sua vida, mas que sempre procurei atingir: jogar de cabeça levantada, olhar para o jogo de maneira diferente, encontrar espaços onde não existem, levar a equipa a um patamar que nenhum outro futebolista conseguiria, ser a peça chave para desbloquear um jogo de futebol.

Aos olhos dos que o percebem, ao tacto dos que o sentiram, aos ouvidos dos que o escutaram... Riquelme é D10S.

E à pergunta sempre típica de "qual é o teu jogador preferido?", a minha resposta será sempre a mesma desde os 13 anos de idade: Juan Román Riquelme.

Até sempre, meu caro!
a·gri·do·ce |ô|
(agri- + doce)

adjectivo de dois géneros

Simultaneamente ácido e doce

"agridoce", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/agridoce [consultado em 26-01-2015].