Este registo valoriza ainda mais a vitória de hoje do Paços. Uma equipa muito bem orientada por Paulo Fonseca, que tem mostrado que a sua passagem falhada pelo Porto foi apenas um momento menos feliz da sua carreira. O seu Paços, tal como o Paços da sua primeira passagem pelo clube, é uma equipa que joga "à grande". Uma equipa muito organizada em todos os momentos do jogo, uma equipa que conhece bem os fundamentos do jogo e que consegue colocá-los em prática, e uma equipa que retira um grande rendimento de todos os seus jogadores, pois consegue pegar nas características individuais de cada atleta, e uni-las através de ideias comuns e transversais a todos. Só assim se explica que o treinador possa, por exemplo, colocar um médio de raiz (Romeu) no eixo defensivo, e ainda assim não se notar diferença em termos de rendimento.
Nada neste Paços parece ser feito ao acaso. A equipa dispõe-se principalmente num 4x4x2, sendo que no momento ofensivo é frequente passar a um 4x2x3x1, com o 9 (quer Cícero, quer Bruno Moreira) a funcionar como a referência na frente, maioritariamente para as bolas longas dos defesas, e com um segundo jogador que, dependendo das suas próprias características, tanto funciona como 10 ou como segundo avançado. No caso de ontem, foi a segunda opção, com a inclusão de Edson Farias no 11. Mas essencialmente, tudo neste Paços roda à volta de dois jogadores que actuam lado a lado na zona central do terreno e que são fulcrais para o modelo de jogo: Sérgio Oliveira e Seri. Com funções semelhantes dentro do modelo, são, no entanto, jogadores com perfis ligeiramente diferentes, e complementam-se quase na perfeição, dando à equipa grande qualidade nas fases de construção e no momento de organização ofensiva. É muito graças a eles que o Paços consegue adoptar a postura de "grande" em campo. O Sérgio é a referência na construção, o jogador que dá critério à posse da equipa e que liga a equipa através do passe. É hoje um dos bons valores portugueses da Liga e, a confirmarem-se os rumores de que voltará ao Porto na próxima temporada, terá uma segunda oportunidade para poder mostrar, na casa que o lançou para o futebol, o valor que lhe é reconhecido desde muito cedo na sua carreira. Já o Seri (que, curiosamente, também chegou ao futebol português através do Porto) é o médio de ligação entre sectores desta equipa. Um pequeno grande jogador de 1,68m, com um pulmão inesgotável, muito forte no preenchimento de espaços e que possui também várias valências ao nível técnico e do passe. O seu estilo de jogo, mais baseado no aspecto físico (corre vários quilómetros em todos os jogos, e sobretudo, sabe como, quando e para onde correr) complementa muito bem o estilo mais técnico e requintado do Sérgio. Uma das duplas mais interessantes da Liga.
E eis que, quando se pensava que o campeonato poderia começar a resolver-se, este volta a estar em aberto e, com a segunda metade da época pela frente, certamente que ainda teremos direito a assistir a muitas voltas e reviravoltas.