segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Fala quem sabe


A importância de ouvir de quem sabe, de quem já passou pela situação. Arriscar na saída em construção vs jogar em segurança. Acima de tudo, a percepção do contexto, daquilo que cada momento pede e daquilo a que nos permitimos imaginar. Sim, existem situações em que a saída de bola deve ser feita em segurança, dependendo da confiança dos jogadores, do conhecimento que se tem do adversário, do momento do jogo, do resultado no placar. Mas acima de tudo, ter a honestidade, coragem e ambição de querer sempre olhar para além do comum. Do "chuta pra frente porque estás pressionado", do "não arrisques que vais perder a bola", pensamentos castradores da verdadeira natureza do jogo.

É este o caminho. Dar liberdade a quem pode (e deve) falar do jogo e abandonar os tasqueiros de praça pública. Henry, será sempre um prazer.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

VfL Wolfsburg - o que espera o Sporting na próxima 5ª-feira

Após a travessia no deserto sem ir à fase de grupos da Champions, o Sporting alcançou um 3º lugar, injustamente. E injustiça na posição classificativa no grupo G, porque o 2º lugar era o que o Sporting merecia ter alcançado, não fosse a incompetência do árbitro no jogo em Gelsenkirchen. Bateram-se bem contra um Chelsea de outra galáxia, deixaram-se empatar nos últimos minutos em Maribor e que agora sabemos o que suspeitámos logo na altura: os 2 pontinhos perdidos na Eslovénia tinham dado cá um jeito... Nem a péssima arbitragem na Alemanha  condicionariam a equipa de Alvalade no apuramento para a próxima fase. Todavia, para um clube que teve tantos anos afastados das competições europeias e para um plantel com pouca experiência (com imensos jogadores formados na sua cantera e não habituados a estas lides), o Sporting fez uma boa prestação. E o caminho óbvio seria a Liga Europa. E na rifa saiu o Wolfsburg, das equipas mais fortes que podiam ter calhado.

O Wolfsburg organiza-se em 1x4x2x3x1:


Começando na baliza, um velho conhecido de quem acompanha o futebol português, temos Diego Benaglio. O capitão e o líder da equipa com uma boa performance já nestes longos anos na Alemanha. É um bom guarda-redes que dispensa apresentações.
Na defesa temos Ricardo Rodríguez a DE, lateral forte defensivamente e que se envolve bem no ataque. Knoche e Naldo formam uma dupla fortíssima, com um poder aéreo assinalável (entre eles têm de média de altura 1,94m), robustos e que transmitem a segurança defensiva que o Wolfsburg precisa para poder construir o seu jogo. Do lado direito da defesa, temos visto Vieirinha: o português que todos conhecemos como extremo tem feito vários jogos do lado direito (ganhando posição a Sebastian Jung), mostrando a vocação ofensiva mesclada com a sua qualidade individual, e também associada a uma boa capacidade posicional e ocupação de espaços.
No meio-campo temos Max Arnold, um jogador com uma capacidade de passe extraordinária, rápido a pensar e a jogar, mas que joga mais recuado do que na sua formação enquanto futebolista, onde ocupava espaços mais ofensivos. Luiz Gustavo (a boa notícia é que está castigado para o jogo de 5ªfeira) é o pêndulo deste meio-campo, normalmente mais posicional e com capacidade física para conseguir limpar e entregar jogável aos colegas da frente: a grande mais-valia deste Wolfsburg.
Sem qualquer dúvida, Caligiuri, De Bruyne e Dost têm uma qualidade individual assinalável e que são jogadores de grande categoria. A juntar a este elenco a aquisição de inverno vinda do Chelsea - Schürrle - afirmamos, sem dúvida, que esta frente de ataque é temível.

As grandes armas do conjunto alemão assentam na velocidade e verticalidade do seu jogo, na rapidez das suas transições, culminando com a qualidade individual de cada um dos elementos do 11 escolhido (Não esquecendo Guilavogui, Perisic e Hunt, por exemplo) por Dieter Hecking.

Esticando o jogo e procurando transições directas, o Wolsfburg é uma equipa que está muito confortável a jogar no contra-ataque, procurando sempre recuperar rapidamente a bola no seu
meio-campo e compactando o espaço para não deixar sair a jogar. Normalmente é De Bruyne/Dost a sair na pressão ao portador da bola, com os 4 no meio-campo a organizarem-se defensivamente com coberturas bastante próximas dos colegas, tendo como objectivo máximo a saída rápida, esticando linhas e chegando à baliza adversária o mais depressa possível. Por vezes, há ocasiões onde Arnold não é tão agressivo na ocupação de espaços, deixando Luiz Gustavo demasiado desacompanhado e a braços com situações de inferioridade numérica (acrescentando ainda as situações onde os extremos não estão preocupados com a vertente defensiva).

Em organização ofensiva e quando estão com a posse de bola, o Wolfsburg prefere sair seguro com os extremos a posicionarem-se entre-linhas, perto do corredor central, com os laterais a abrirem o jogo, progredindo com bola ou explorando a profundidade, esperando que surja um passe nas costas da defesa. A finalidade do jogo ofensiva é sempre a área adversário, maioritariamente usando cruzamentos para chegar até lá. A outra situação mais ocorrente no jogo ofensivo do Wolfsburg, é Bas Dost (excelente avançado, grande e forte) que se apresenta como referência ofensiva: seja para o jogo directo onde faz uso do seu 1,92m e 85kg para ganhar terreno em espaços mais seguros, ou descendo para dar linha de passe vertical ao portador da bola, arrastando marcações e dando espaço a De Bruyne, Schürrle e Caligiuri para actuarem com rapidez nas costas da defesa.


Para além de Dost, existe De Bruyne. Mais que um "nº10", um maestro, ou um organizador de jogo, De Bruyne tem velocidade, drible e sentido de baliza que lhe conferem um papel muitíssimo activo neste estilo de jogo alemão, na procura de golos e oportunidades claras para atormentar o guarda-redes adversário.


Para além do que referimos, as bolas paradas são também uma mais-valia neste Wolfsburg. Para além dos livres directos onde De Bruyne, Arnold e até Naldo (que grande golo marcou frente ao Leverkusen!) gostam de dar um ar de sua graça; nos cantos e livres indirectos a ameaça é constante face à altura dos jogadores que figuram no plantel alemão.

Para o Sporting a missão é extremamente complicada, somos sinceros. Só com um jogo muito bom a nível defensivo e com um jogo ofensivo assertivo, não precipitado  e capaz de saber explorar as debilidades defensivas do Wolfsburg é que o Sporting sairá da Alemanha com um resultado positivo.

Mas sonhar não custa, e desejamos que o Sporting consiga um bom resultado para resolver a eliminatória em Alvalade.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Criatividade, Espaço Entrelinhas e Outras Coisinhas

O lance que trago hoje para discussão diz respeito ao primeiro golo do Tottenham contra o Liverpool, a contar para a 25ª jornada da Premier League, num desafio em que os comandados de Mauricio Pochettino até acabaram por sair derrotados por 3-2. A finalização de Harry Kane, muito mal executada por sinal, é o que menos importa na jogada, por isso vamos concentrar-nos na construção da mesma, da autoria dos dois jogadores mais criativos do plantel, Eriksen e Lamela.


A jogada começa com a bola na posse do lateral direito Kyle Walker e a primeira nota positiva vai para a movimentação dos jogadores do Tottenham que, em vez de fazerem «campo grande a atacar», como mandam os livros, optam por aproximar-se, concentrando-se em redor de Walker e oferecendo-lhe linhas de passe próximas. Este movimento conjunto de aproximação ao portador da bola, juntamente com a circulação da bola sempre por dentro, obriga o meio-campo do Liverpool a ajustar o seu posicionamento e o espaço entrelinhas - o ouro, portanto! - fica então descoberto. Se se parar o vídeo aos 8 segundos, quando a bola sai dos pés de Lamela para Eriksen, a distância entre a linha defensiva e a linha média do Liverpool é por demais evidente. Aliás, diga-se que esta má articulação entre sectores é um defeito grave da equipa de Brendan Rodgers e tem sido uma constante, não só esta época, mas também durante grande parte da época passada; provavelmente para tentar resolver alguns problemas de controlo de profundidade que o Liverpool sentiu o ano passado, Rodgers pediu (e pede) à sua linha defensiva que não conceda tanto espaço nas costas, mas com isso só consegue que qualquer equipa, mesmo de menor qualidade, jogue com facilidade dentro do bloco e entre as linhas do Liverpool, já que o meio-campo continua a ter ordens para efectuar um pressing médio/alto. Mas isso são contas de outro rosário...Voltando ao lance em questão, a bola chega por fim a Eriksen, que toma a decisão que desbloqueia verdadeiramente toda a jogada. A tabela com Lamela, com o passe a entrar entre dois médios do Liverpool, é um gesto técnico relativamente simples, mas são poucos os médios ofensivos que, tendo outras opções, decidem forçar o jogo pelo corredor central, metendo a bola ali, no meio de um aglomerado de jogadores adversários. Outro jogador, menos imaginativo, provavelmente tinha optado por jogar no apoio recuado ou mesmo esperado pela subida do lateral, para tentar o overlap. Mas Eriksen não é um jogador qualquer e conseguiu a proeza de decidir rápido, bem e, ao mesmo tempo, com imprevisibilidade. A assistência de Lamela para Kane, atacando o lado esquerdo e depois fazendo a bola entrar do lado direito, apanhando os defesas em contra-pé, é muito boa, mas o mais difícil, que era colocar a bola na zona onde tudo acontece, estava feito.

Dois jogadores com uma criatividade acima da média, com três passes do mais simples que há, foram capazes de ultrapassar oito adversários e de colocar um colega numa situação de 1x1 com o guarda-redes. Oito adversários, repito, ou seja, mais de meia equipa! Muito mais do que passes longos vistosos, pedaladas, cabritos ou vírgulas, criatividade é isto. E uma equipa, não descurando obviamente outras formar de criar oportunidades de golo, nomeadamente através do jogo exterior, será tanto mais imprevisível e versátil a atacar, quanto mais capacidade tiver para recrear jogadas ofensivas deste tipo e quanto mais jogadores com a capacidade inventiva de Eriksen e Lamela conseguir reunir no onze.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O Rei do Chutão

«The really good players are the ones who never lose the ball. Those who know how to pass it and who never lose it. They are the good ones. And that’s who you must always use, even if they are lower profile than the rest.»
Pep Guardiola

Corria o minuto 89 em Alvalade. Minutos antes, o Sporting adiantara-se finalmente no marcador, por intermédio de Jefferson, e tinha assim uma oportunidade de ouro de encurtar a distância para o maior rival para 4 pontos e relançar a luta pelo título. Assim sendo, nos poucos minutos que restavam, era imperioso não deixar o Benfica ter a bola, necessitando o Sporting, para isso, de a conservar em seu poder longe da sua grande área e de baixar o ritmo do jogo o mais possível, por forma a desgastar o adversário física e psicologicamente. Nestas circunstâncias, como permitir então o empate? Simples. Ter jogadores displicentes, com uma capacidade de decisão sofrível e escassa qualidade com bola.


Atentemos num momento em que o Sporting tenta - e bem! - circular a bola a toda a largura, com paciência e critério. No instante em que a imagem pára, a bola está a vir da meia direita para a direita, mas, infelizmente, o destinatário do passe de Paulo Oliveira é Cédric, um dos jogadores mais acarinhados pelo público leonino e um dos que mais escapa às críticas negativas, sem se perceber muito bem o porquê, já que é, a alguma distância, o elo mais fraco do onze. Vejamos então o que acontece quando a bola chega aos pés de Cédric.


Na altura em que se prepara para receber a bola, Cédric tem três opções: a) devolver o passe a Paulo Oliveira, que já estava posicionado para fornecer o apoio recuado; b) usar a linha de passe interior, dada por Mané; c) ficar com a bola, tentando ganhar uma falta ou um lançamento de linha lateral. Todas estas opções, com maior ou menor risco, permitiriam ao Sporting o que era verdadeiramente essencial naquela fase crítica do jogo: ter a bola! Mas Cédric, com a falta de inteligência a que já nos habituou, resolve o lance da única maneira que conhece, ou seja, com um balão sem nexo para onde estava virado.



Repare-se que o esférico ainda não saiu dos pés de Paulo Oliveira e toda a linguagem corporal do lateral direito leonino dá a entender que não equaciona sequer outra hipótese que não seja livrar-se da bola a todo o custo, como se fosse uma granada prestes a explodir. O lance, que até nem era especialmente exigente do ponto de vista técnico ou de decisão, claro está que acabou nas mãos de Artur e o Benfica pôde recomeçar nova vaga de ataque, conseguindo mesmo chegar ao empate, nos últimos segundos do encontro.

Responsabilizar unicamente Cédric por estes dois pontos perdidos seria uma análise demasiado simplista e redutora e esse está longe de ser o propósito deste texto, mas, para quem vê os jogos do Sporting com olhos de ver, decisões destas são recorrentes em Cédric. É um lateral rápido, abnegado e com alguma competência no 1x1 defensivo, mas a sua qualidade com bola é francamente insuficiente para este nível, sobretudo se fizermos a comparação com os laterais que Porto e Benfica têm à sua disposição. Mesmo Maxi Pereira, que está longe de ser um lateral de eleição, tem um leque de recursos ofensivos que não está ao alcance de Cédric. Para os mais cépticos, só peço que estejam atentos aos próximos jogos do Sporting e que contem o número de vezes em que ele traz o jogo para dentro para criar desequilíbrios, em que ganha a linha de fundo e cruza atrasado em vez de mandar a bola para a molhada, em que sai da pressão através do drible, em que usa os apoios interiores para progredir, em que faz um passe de mais de 2 metros que não seja a «queimar» o colega. Muito poucas! Não, as suas acções com bola são do mais básico e rudimentar que há e se, há uns anos, não se exigia tanto, em termos ofensivos, dos jogadores que jogam em posições mais recuadas, actualmente, com o aperfeiçoamento crescente das estratégias defensivas, todas as posições, sem excepção, devem ter jogadores capazes de realizar mais do que duas ou três acções padronizadas e previsíveis. Num clube grande como o Sporting, torna-se mesmo obrigatório.

Enfim, é Cédric no seu melhor. O verdadeiro rei do chutão.

P.S. No meio-campo, embora em muito menor escala, existe um problema semelhante e chama-se Adrien Silva. Mas quando Ryan Guald começar a aparecer com mais frequência na equipa principal, como espero que venha a acontecer a curto/médio prazo, talvez se perceba que Adrien, apesar de ter valor, não é tudo aquilo que dizem que é, nomeadamente a nível ofensivo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Wir lieben dich, Marco


A notícia do dia : Marco Reus renova contrato até 2019.

Após tanta especulação sobre o qual o próximo clube de Reus (falou-se de Barcelona, Arsenal, Real Madrid e até mesmo Bayern), esta acabou de forma mais simples do que alguns gostariam: Marco Reus fica no Dortmund.

Após 2 épocas ao serviço do Dortmund onde os bons resultados, e sobretudo o bom futebol, se evidenciaram a um nível raramente visto, a sua 3ª época tem sido para esquecer. O Borussia está em 16º lugar, com um ponto abaixo da linha de água. Parece impossível, nós sabemos... Mas a verdade é que após uma final da Champions, uma Bundesliga e dois 2º lugares atrás do colosso monopolista Bayern, o Borussia está nesta situação periclitante.

Apesar desta época desastrosa (a nossa convicção é que o Dortmund vai conseguir a manutenção) e após tentadores convites e propostas de clubes com maior dimensão, possivelmente mais dinheiro e desafios mais ambiciosos: Marco Reus escolheu renovar o seu contrato e ajudar o Dortmund a voltar a encontrar os trilhos do sucesso.
"I am looking forward to a successful future with our team and our fantastic fans supporting us. There is a lot to do and I want to be part of that"
E quem ainda acredita que existe romantismo no futebol, expressos através do amor à camisola, à lealdade intrínseca a um clube ou ideal ... esta é uma excelente notícia. 

A virtuosidade com que finta e com que se move, acompanhada pela sua velocidade de pensamento e tomada de decisão são factores que elevam a sua polivalência (tanto atrás do ponta-de-lança, extremo esquerdo ou extremo direito) e a sua preponderância numa equipa como o Borussia Dortmund - ainda mais no modelo de jogo de Jürgen Klopp, que ficará bastante agradecido e feliz por esta decisão de Reus.

Acredite que nós também, Mister Klopp. Nós também...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Um derby ... razoável


8 de Fevereiro, o eterno derby do futebol português: Sporting vs Benfica.

Tacticamente, as equipas entraram para o jogo sem surpresas (mesmo esquema táctico de parte a parte); mas do lado do Benfica uma pequena alteração com André Almeida a figurar no centro do terreno ao lado de Samaris. Apesar de ter sido um jogo com intensidade física, com os jogadores a encararem o jogo com garra e vitalidade, do ponto de vista futebolístico o jogo não foi um “must see” que todos quereríamos assistir.

O anfitrião, no seu próprio estádio, não protagonizou um bom jogo de futebol, recorrendo sempre a um jogo mais directo e a valorizar a velocidade de Carrillo e a virtuosidade de Nani – sempre as referências do jogo ofensivo do Sporting. Tacticamente organizados e com linhas sempre juntas (quase todas as 2ªs bolas foram ganhas pelos verdes e brancos), a superioridade numérica que teve no meio-campo não foi suficiente para criar um fio de jogo atractivo, com passes curtos e desmarcações entre as linhas do Benfica. Defensivamente, a linha defensiva do Sporting não se mostrou suficientemente coordenada (apesar da boa exibição dos jovens centrais Paulo Oliveira e Tobias Figueiredo), assim como os interiores João Mário (sempre a jogar mais adiantado que o colega de meio-campo) e Adrien mostraram alguma permeabilidade defensiva, fazendo com que o Benfica na 1ª parte conseguisse jogar entre-linhas com Samaris a sair a jogar e Jonas a descobrir espaços para receber o passe vertical.

Todavia, do lado benfiquista o jogo foi ainda mais pobre. O Benfica mostrou-se tecnicamente débil, dificultando a construção de jogo numa primeira fase (onde em maior evidência realçamos Eliseu e Jardel, que mostraram ter problemas claríssimos em conseguir jogar com a bola controlada); a nível táctico, o Benfica mostrou-se ao seu nível, com o sector defensivo sempre atento a ler o jogo: controlando bem a profundidade e sabendo ajustar a linha defensiva nos momentos que devia. De quando em vez, vimos um Jonas inspirado a receber jogo ofensivo e clarividente em levar a sua equipa para a frente, tentando motivar os seus colegas de ataque. Tarefa que não conseguiu, mas não por culpa própria, porque hoje vimos um Salvio a decidir mal e a tentar elevar o jogo à sua capacidade individual; um Ola John a demorar muito com a bola no pé; e um Lima a não ser a referência ofensiva que o Benfica precisava, completamente ofuscado pelo bom jogo dos centrais adversários. Esta pobreza ofensiva fez com que o Rui Patrício tivesse uma noite bem descansada: não foi obrigado a fazer nenhuma defesa esforçada. Nem a entrada de Talisca aos ’64min - que por certo tinha o objectivo de receber dentro do bloco leonino, progredindo com bola para tentar um passe de morte ou fazendo uso da sua meia distância - conseguiu perturbar o guarda-redes da casa.

Na 2ª parte, vimos um Sporting mais atrevido, a trocar mais a bola e com mais jogadas de perigo: Montero por duas vezes obrigou Artur a ir ao relvado e Carrillo num bom cabeceamento também tentou a sua sorte. É bom realçar que William Carvalho voltou ao seu bom plano, sendo um esteio defensivo e uma mais-valia a lançar os ataques leoninos com bons passes verticais a chamar a jogo Montero, Carrillo e Nani.

Os golos, nos últimos minutos do jogo, são um exemplo representativo do que foi o jogo: um jogo aguerrido, sem muitas jogadas deslumbrantes, com atitude e seriedade dos jogadores de ambas as equipas e que resultaram em 2 ressaltos e, consequentemente, 2 golos.

Quem gosta de futebol, pedia mais e merecia melhor de um jogo que é sempre um marco na história do futebol português!

PS: Excelente arbitragem do árbitro Jorge Sousa. Nota bastante positiva para uma exibição que demonstrou que a equipa de arbitragem tem de ser o conjunto menos notado em jogos de futebol.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A referência de uma geração

Hoje exaltamos Cristiano Ronaldo. O futebolista português entra na casa dos 30 com com uma carreira recheada de títulos, recordes pessoais e coletivos e não parece haver indícios para que a saga termine nos próximos tempos.

Depois de Eusébio e Figo, Portugal ganhou em Ronaldo uma referência que entusiasma adeptos, treinadores e todos os que gostam de futebol, um pouco pelo mundo inteiro. Um modelo a seguir para quem ambiciona chegar ao topo da modalidade, pelo perfil que apresenta dentro das 4 linhas, pela dedicação, pelo empenho, pelo perfeccionismo que persegue dia após dia que lhe proporciona todas as suas conquistas.

Sendo um fenómeno à escala mundial, Cristiano, mais do que qualquer outro jogador, está constantemente sujeito ao olhar da imprensa por questões extra-futebol, aspetos esses que se tornam absolutamente irrelevantes para qualquer análise puramente objetiva e imparcial no que toca à sua capacidade futebolística.

Por isso, falemos do que realmente importa. Quem pensa em Ronaldo pensa em golos. Muitos golos. Normalmente, as estatísticas no futebol, desprovidas de contexto, de nada ajudam, principalmente a quem as toma por absolutismos. Excepto quando os números atingem patamares estratoféricos, como é o caso. Falar em Ronaldo é falar no melhor finalizador do futebol atual, por todas as características que foi desenvolvendo ao longo da carreira. Seja de maneira for, seja em que situação for, Ronaldo consegue sempre arranjar maneira de ajudar a equipa a chegar ao objetivo do jogo. No momento da finalização é um jogador do mais completo que existe e é isso que lhe concede sua imensa notoriedade. Desde os tempos de Manchester que tem vindo a tornar-se cada vez mais refinado no aproveitamento das oportunidades, juntando à sua imprevisibilidade de ação uma capacidade de remate fantástica. Com alguém na equipa com tamanha capacidade em determinado momento, cabe ao treinador orientar o seu Modelo de forma a potenciar toda a sua qualidade. Diz-se que nenhum jogador está acima da equipa e com toda a razão. O coletivo é sempre o mais importante. Mas de tempos a tempos, aparecem jogadores tão competentes em determinado contexto que obrigam quem lidera a repensar estratégias e a alterar concepções, para que o todo possa ajudar o individual... porque o individual melhora o todo.

Ronaldo é isto. Um jogador que ultrapassa tácticas, que consegue desequilibrar e decidir jogos em momentos inesperados, que apaixona adeptos e quebra recordes atrás de recordes. Um exemplo de potencialização através do trabalho, das ruas do Funchal às luzes de Madrid. Parabéns Cristiano.