domingo, 11 de setembro de 2016

O Derby de Manchester


O Manchester City de Pep Guardiola e o Manchester United de José Mourinho defrontaram-se ontem, em Old Trafford, no duelo mais mediático da 4ª jornada da Premier League. O Manchester City, estruturado em 4-3-3, alinhou com Bravo (em estreia absoluta pelo novo clube); Sagna (uma meia-surpresa, já que se esperava a titularidade de Zabaleta), Stones, Otamendi e Kolarov; Fernandinho, David Silva e Kevin De Bruyne; Sterling, Nolito e Iheanacho (rendeu o castigado Agüero), enquanto o Manchester United, em 4-2-3-1, apresentou De Gea; Valencia, Bailly, Blind e Shaw; Fellaini e Pogba; Mkhitaryan (no lugar de Mata), Lingard (no lugar de Martial) e Rooney; Ibrahimovic. Uma constelação de estrelas, portanto, com dois treinadores de classe mundial no banco de suplentes e um ambiente incrível nas bancadas.

Embora os minutos iniciais do Manchester United tenham sido prometedores, com a atitude mandona que se exige à equipa que joga em casa, foi sol de pouca dura, pois o Manchester City, após um período inicial de algum nervosismo, estabilizou e arrancou para uma primeira parte de grande nível: com bola, um ótimo jogo posicional, com linhas de passe e posicionamentos bem definidos a cada momento, para permitir à equipa evoluir no relvado de forma apoiada; sem bola, uma pressão altíssima e sufocante, a “abafar” por completo os comandados de Mourinho, que se afundaram no campo e foram incapazes de ligar três passes seguidos por largos períodos de tempo. Otamendi e Stones fortíssimos na antecipação e no encurtamento dos espaços, David Silva a encher o campo com a sua movimentação e qualidade a gerir ritmos e Iheanacho a fazer um bom trabalho a ligar setores e a segurar a bola para a equipa subir em bloco. Foi por isso com naturalidade que o City se adiantou no marcador, aos 15 minutos, por intermédio de Kevin De Bruyne, num lance, porém, algo incaracterístico, a fazer lembrar o mítico “kick and rush” britânico – bola longa de Kolarov, Iheanacho, em apoio, amortece para De Bruyne, que ataca a profundidade, dribla Blind e finaliza com classe. A toada manteve-se e, aos 36 minutos, Iheanacho ampliou a vantagem, numa recarga a um remate ao poste de De Bruyne. O intervalo aproximava-se a passos largos e o City tinha o adversário completamente manietado, mas um erro do estreante Bravo (um dos muitos disparates que fez ao longo do jogo, diga-se) alterou por completo as coordenadas de uma partida aparentemente controlada; num livre lateral batido por Rooney aos 42 minutos, Bravo quis ir buscar uma bola que não era sua, chocou com Stones e deixou a bola à mercê de Ibrahimovic que, com a qualidade na execução que todos lhe reconhecem, fez o 1-2. Aí, o United galvanizou-se e, ainda antes de Mark Clattenburg apitar para o descanso, o extraordinário avançado sueco teve nos pés o empate, mas falhou clamorosamente.

Após o intervalo, Mourinho fez duas substituições (Rashford e Herrera entraram para os lugares de Mkhitaryan e Lingard) e modificou também alguns posicionamentos, com Rooney e Rashford a fecharem os corredores laterais, Fellaini mais próximo de Ibrahimovic e Herrera e Pogba no duplo pivot, mas também bastante subidos. Beneficiando de um pressing mais alto e de um jogo mais direto, o United começou a criar mais dificuldades ao City, com algumas recuperações altas perigosas, mas Guardiola respondeu rapidamente, fazendo entrar Fernando para o lugar de Iheanacho e alterando o sistema de jogo para uma espécie de 4-6-0, sem uma referência fixa na frente. A ideia era boa – assegurar novamente a superioridade numérica no miolo e retirar as referências à linha defensiva do United, para aproveitar o espaço existente nas costas da pressão – mas não funcionou em pleno, pois, sem Iheanacho na frente a fornecer os apoios verticais e com Nolito e sobretudo Sterling muitas vezes incapazes de dar a melhor sequência às jogadas, o City começou a perder muito bolas no último terço e deixou-se mesmo encostar às cordas em alguns momentos. Nesta fase, o jogo “partiu” completamente e tornou-se numa partida de parada-resposta típica da Premier League, ou seja, com “bola cá bola lá”, uma intensidade altíssima e ambas as equipas a beneficiarem de oportunidades para fazer, quer o 1-3 (De Bruyne enviou outra bola ao poste e David Silva, à entrada da grande área, atirou a rasar a barra), quer o 2-2 (Ibrahimovic, a passe de Rashford, mandou por cima da baliza, já bem dentro da grande área, e Rashford chegou mesmo a introduzir a bola na baliza, mas o golo foi invalidado, por fora-de-jogo posicional de Ibrahimovic), bolas paradas à parte. Contudo, o resultado manteve-se inalterado até final e o City saltou para a liderança isolada da Premier League (4 vitórias em outros tantos jogos), em mais uma vitória de Guardiola sobre Mourinho, a 8ª em 17 confrontos entre os dois treinadores.

Resumindo, a vitória tangencial dos pupilos de Pep Guardiola espelha bem o que se passou em campo: o City foi muitíssimo superior na primeira parte e justificou plenamente a vantagem, o United equilibrou a contenda na segunda parte e criou algum perigo, mas nunca conseguiu impedir o City de continuar a criar oportunidades em transição ofensiva, pelo que o resultado ajusta-se perfeitamente. De salientar também os diferentes estados de maturação dos dois modelos de jogo: enquanto na equipa de Guardiola já existe uma ideia de jogo clara (os posicionamentos para sair a jogar já estão bem oleados, bem como os timings e referências de pressão, e com alguns jogadores a conseguirem já associar-se entre si), do lado oposto, honestamente vê-se pouco trabalho tático, com uma organização defensiva, no máximo, razoável, um par de combinações ofensivas mais ou menos mecanizadas e pouco mais. Muito esforço, mas poucas ideias, pouco pensamento coletivo, pouco entrosamento entre os jogadores…José Mourinho tem ainda muito trabalho pela frente se quer colocar o United a lutar pelo título até ao fim.


Individualmente, do lado do Manchester City, há dois destaques óbvios: Otamendi, imperial na primeira bola, com uma leitura superior dos lances e quase sempre com critério a sair a jogar, e o formidável David Silva, provavelmente o melhor jogador de futebol dos vinte e dois que subiram ontem ao relvado. Fernandinho, Kevin de Bruyne e Stones a muito bom nível também. Do lado do Manchester United, como a organização coletiva não está ainda no ponto que Mourinho certamente deseja, as exibições individuais ressentiram-se, mas Bailly (sempre no caminho da bola) e Pogba (há quem diga que fez uma exibição discreta, mas o seu jogo ganha maturidade quando atua em posições fora do bloco e que exigem decisões mais criteriosas e seguras) foram os elementos em maior evidência. Ibrahimovic sempre inconformado e boas entradas de Rashford e Herrera, a mexerem com o jogo e a justificarem uma aposta mais regular.

No que toca à arbitragem de Mark Clattenburg, pese embora as críticas de José Mourinho, na verdade ficou um penalty por marcar para ambos os lados: aos 55 minutos, Bravo tenta fintar Herrera, adianta a bola em demasia e atinge Rooney; e aos 70 minutos, num lance confuso na pequena área do United, Bailly atropela Otamendi e impede-o de disputar a bola em condições.

Uma incrível Premier League em perspectiva, com todas as condições para a cidade de Manchester se assumir como o centro do universo futebolístico...Para já, neste duelo de titãs, Guardiola ganhou o primeiro round.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

O meu modelo de jogo é melhor que o teu?

“Vibram os arautos do andamento
com o aumento da correria
p’ra eles aí reside o talento,
o jogo esse virou porcaria!

Jogadores de futebol
de atletas travestidos,
dando à correria lugar-ao-sol
o futebol fodem e são fodidos!”


(Frade, 2014)


Há inúmeras formas de chegar ao sucesso, na mesma medida em que o sucesso pode ter inúmeras formas.

Linha defensiva em controlo da largura e da profundidade. A entender os espaços que tem de fechar, e as trocas posicionais. Linha de fora-de-jogo definida pelo homem da cobertura. Em caso de desequilíbrio, homens mais próximos a fechar corredor central e a obrigar adversário a jogar por fora. Linhas próximas, mais atrás ou mais à frente, mas sempre próximas. Zonas de pressão definidas, condicionar o portador da bola e ser sempre agressivo quando adversário recebe de costas ou bola pelo ar. Baixar para trás da linha da bola na transição defensiva. Com bola? Jogar, sempre. Primeira fase com 2 ou 3 opções, com objectivo de entregar a bola limpa aos colegas. Com paciência, se necessário rodar o jogo até haver espaço para entregar e receber. Jogar entre-linhas e de cara. O passe vertical, que queima linhas. Se o adversário basculou e está fechado, voltar à 1ª fase de construção ou usar apoio mais recuado para circular. Extremos dentro, arrastam marcações e lateral aparece; se a marcação não vier, recebe e joga dentro. Jogar dentro do bloco adversário. Sair da pressão em segurança. Variar o centro de jogo. Avançado em apoio frontal, quando tem liberdade para definir extremos fazem diagonais interiores. Entender quando adversário está subido: ataque rápido + profundidade. Busca pelo desequilíbrio em todas as zonas do campo: 2x1, 3x2, 4x3, acelerar. Criatividade. Zonas de finalização definidas, com médios a encurtar para linha de passa atrasada ou segundas bolas. Assimilar os comportamentos em treino para os poderes fazer na competição, seja com que adversário for.

O jogo valoriza jogadores, e os jogadores valorizam o jogo. E o treino.


sexta-feira, 8 de abril de 2016

Um Maradona em cada um

Tens meia-hora para Maradona?



Porque a melhor maneira de "quebrar" um adversário ainda é, e sempre será, fazeres o que ele não está à espera. Se tens habilidade, a melhor rentabilidade para a equipa será utiliza-la, mesmo que implique ceder noutros aspetos. Quantas linhas de passe Maradona desperdiçava? E quantas opções, nessa forma, condicionava a atitude da equipa contrária? Vai para a esquerda, direita, vai temporizar ou passar? Era impossível prever. Quebrando linhas, chamando adversários e deixando-os sem saber o que fazer para o parar. Os melhores são assim, imprevisíveis. Poder contar com eles é um privilégio e importa continuar a fomentar e fazer crescer jogadores deste perfil. Sem medo de arriscar, com talento e paixão por fazerem o que os deixa (e que nos deixa) felizes. E só com liberdade o conseguiram fazer.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Dinâmicas de equipa vs Dinâmicas de jogadores


Decorria o jogo Boavista-Benfica, quando no sítio onde me encontrava, um senhor teve um comentário interessante. "O Benfica hoje não está com a dinâmica habitual!". Isto fez-me lembrar de uma citação de Carlos Carvalhal que li recentemente e que vai um pouco de encontro ao comentário deste senhor. Dizia Carvalhal que as dinâmicas da equipa estão dependentes do perfil dinâmico dos jogadores nas suas posições. Que por exemplo, se uma equipa tiver um lateral direito ofensivo e num certo jogo tiver que jogar um lateral direito mais defensivo, as dinâmicas da equipa vão mudar. Logo podem imaginar o que acontece quando se mudam 4 ou 5 jogadores titulares, que no fundo foi o que aconteceu no jogo do Benfica.

Mas não desviando do tema principal, abrem-se algumas dúvidas na minha cabeça relativamente a este tema. É inegável que o perfil dinâmico de cada jogador é essencial para a forma como a equipa se apresenta em campo. Mas as dinâmicas "originais" da equipa, introduzidas e fomentadas desde a pré-época, mudam apenas por isso? Ou serão antes simplesmente interpretadas de outra forma? Num passado recente vimos, por exemplo, Busquets ou Mascherano a jogar a 6 no Barcelona. O perfil de cada jogador acabava por influenciar as dinâmicas de jogo da equipa, mas ao ponto de as alterar? Ou seriam as dinâmicas as mesmas mas apenas não tão bem interpretadas devido ao diferente perfil dinâmico que se encontrava naquela posição? A minha dúvida insere-se exatamente aqui.

Tenho algumas reticências em acreditar na alteração de dinâmicas coletivas simplesmente pelo uso de jogadores com diferentes perfis em certas posições. As equipas dificilmente conseguem ter 22 jogadores homogeneamente distribuidos por posição, no entanto é óbvio que o procuram. Se o Barcelona deixasse sair Busquets, dificilmente iria à procura de um "destruidor de jogo" para aquela posição. As dinâmicas de equipa são treinadas semana após semana e a tendência será sempre para melhorá-las usando os diferentes perfis dinâmicos dentro de um plantel. Nisso não tenho dificuldade em concordar, em adaptar as dinâmicas às características dos jogadores que temos à disposição. Mais difícil é acreditar que numa semana em que o treinador não tenha jogador X, que as dinâmicas coletivas para esse jogo irão mudar simplesmente porque jogador Y tem um perfil de jogo diferente.

sábado, 26 de março de 2016

Futebol juvenil: As excepções que nos fazem acreditar

Quando falamos em futebol juvenil não são raras as vezes em que associamos tal a fenómeno a comportamentos incorrectos e situações degradantes.

Durante treze anos de ligação ao futebol juvenil enquanto jogador tenho de admitir que foram raras as vezes onde não se ouviam insultos, assobios ou ameaças vindas da bancada, quer fosse em direcção aos árbitros, jogadores ou até mesmo equipa técnica. E isso leva-nos a um ponto crítico. Até que ponto a presença e comportamento incorrecto das pessoas presentes em jogos de crianças é benéfica para as mesmas?

Claro que o calor do jogo, a intensidade e a pressão são tudo factores que fazem uma criança desenvolver-se mental e fisicamente na prática do futebol, mas todos esses factores deveriam ser proporcionados pelo jogo dentro das quatro linhas e não pelo ruído das bancadas.

Num país onde cada vez mais o público do futebol juvenil se revela uma má influência no mesmo, temos de saudar e bater palmas aqueles que tentam ser diferentes. Temos de agradecer a todos os que tentam transmitir aos seus filhos o principal valor e objectivo da prática de uma modalidade desportiva que é divertirem-se.


Não têm de ser os pais a querer e a impor aos filhos o sonho de profissionalizarem-se, isso é uma vontade que tem de partir deles mesmos sem nunca se esquecerem do porquê de gostarem tanto de jogar futebol, seja na rua, num treino ou num jogo do campeonato, eles estão lá porque gostam de jogar e gostar do que fazemos será sempre o passo mais importante para sermos bem-sucedidos nisso mesmo.

Por isso, sigam o exemplo daqueles que mais interessam e deixem os vossos filhos aproveitar o momento que estão a viver no futebol juvenil. Cada agente tem o seu papel na prática do futebol juvenil e o do público é apoiar, não é treinar nem arbitrar. Por isso, deixem-nos crescer, deixem-nos errardeixem-nos viver e deixem-nos saborear aquela que pode ser a melhor passagem no desporto deles.

Em jeito de conclusão e de modo a justificar o título, tenho quase 14 anos de futebol em cima de mim, 13 como jogador e 1 como treinador, e foi neste ano que voltei a ganhar um pouco da esperança no futuro dos miúdos.  Foi bom poder verificar e assistir a pais preocupados com o facto do seus filhos se estarem a divertir em vez de criticarem as opções do treinador.

E são estas as excepções que nos fazem acreditar num futuro melhor para o futebol juvenil. Um futuro onde a exigência e o divertimento possam andar de mãos dadas sem serem precisas pressões adicionais da bancada. 

A estas excepções, o meu obrigado por estarem a fazer aquilo que é correcto.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Negligenciando o básico?

Há uns dias atrás, no Congresso de Futebol organizado pela Bwizer, o professor José Soares deu uma excelente palestra onde o foco foi a sua especialidade: a vertente fisiológica do desporto. Acima de tudo, como pode a excelência nesse campo e os estudos que nele são feitos, dinamizar o futebol na prevenção de lesões e na optimização do rendimento desportivo.

O sentimento que existe no futebol atual pende muito para o lado tático e com toda a razão. O legado de Vitor Frade tem vindo a fomentar-se em virtude de vários sucessos, Mourinho à cabeça, um pouco por todo o lado. A Periodização Tática (http://pt.slideshare.net/PedMenCoach/periodizao-ttica-jos-guilherme-oliveira) diz-nos para treinamos como queremos jogar. A padronização de comportamentos de forma a condicionar as ações dos jogadores, para que as variáveis passíveis de orientação possam ser pendidas a nosso favor. Dentro de micro-ciclos semanais, encontramos espaço para treinar macro e micro-comportamentos, em grandes e pequenos espaços, com variações nos estímulos fisiológicos para que a preparação seja feita de forma variada e adequada. Uma das características que surge é a especificidade morfológica, onde a adequação das ações (físicas) para o jogar pretendido vem de arrasto com o estilo de jogo pretendido. Por outras palavras, um estilo de jogo onde a predominância advenha de transições rápidas, por exemplo, irá ser reproduzida, em treino, nessas mesmas condições. O jogador, pela adaptação a tais exigências irá, com tempo e treino, adaptar-se ao que lhe é exigido, como um todo. O mesmo pode ser dito de ações mais simples. Sabemos que um remate, por exemplo, exige uma força predominantemente fornecida pelos quadrícipes. Dado tempo e repetições suficientes, a adaptabilidade correta ao esforço irá acontecer. Ou não?

O futebol, um pouco à parte de outros desportos, tem vindo a mostrar alguma negligência pela vertente física do jogo, do atleta. Seja pelo facto de as criticas (bem feitas) ao exagero de um foco desreguladamente acentuado nas características condicionais em tempos passados que deixavam de lado fatores mais importantes, seja pela nova onda de educação que contrapôs essa mentalidade e, em boa verdade, deixa a milhas metodologias de décadas anteriores e se foca acima de tudo na vertente tática. De uma maneira ou de outra, se levadas muito a sério, podem ser extremos que não beneficiam a evolução neste campo e que continuam a não deixar haver um fundamental equilíbrio nas forças em questão.

Qualquer ação no jogo tem uma base "física", sejam um passe, um remate, uma simples deslocação. São manifestações anexadas a uma ideia sim, mas inerentemente físicas. Num pequeno aparte e parafraseando José Guilherme: "A técnica é a capacidade de um atleta de idealizar corretamente aquilo que quer fazer, manifestando-se depois essa idealização numa ação motora." No fundo, toda a técnica precisa de uma correta ação motora para ser bem realizada. Uma sem a outra não fazem sentido porque atuam juntas (cada uma no seu domínio) e em conformidade com a situação.

Mas divago. Agora, de volta ao tema em questão. Em qualquer movimento que fazemos, entram em ação músculos agonistas e antagonistas. Por outras palavras, sempre que solicitamos o esforço de um músculo (agonista), existe outro (antagonista) que equilibra a balança, para que o movimento seja completo e compensado. No caso do remate acima citado, existe uma solicitação (em extensão) dos quadrícípes, o que torna os isquiotíbiais os antagonistas desse mesmo movimento. O inverso se passa quando falamos de uma flexão do mesmo membro. Os protagonistas são os mesmos, mas com papéis diferentes.


E é aqui que o professor argumenta ser necessário um maior equilíbrio, falando de um défice que claramente existe comparativamente com outros desportos. Lesões traumáticas à parte (e às vezes nem isso dado que o cansaço através deste défice pode bem ser uma das razões para tal em alguns casos), no futebol ainda não existe uma preocupação suficiente para prevenir este tipo de acontecimentos. Podemos comparar esta situação com as ações de uma equipa em atacar prevenindo uma transição defensiva. Não interessa só atacar bem mas sim ter noção que depois disso temos de estar preparados para o momento que se segue, pensando o jogo (e o movimento) como um todo. Se atacamos considerando a hipótese de perdermos a bola e para isso dispomos os jogadores de acordo a terem sucesso numa eventual transição, porque não fazer o mesmo com as exigências musculares de cada atleta?

Vítor Frade costumava dizer que o músculo não é cego. É um órgão sensível, afetado por tudo o que o rodeia, até à mais pequena alteração "não-natural" dos seus companheiros. As alterações morfológicas desnecessárias provocadas pela exigência física fora do contexto de jogo (o treino de força tradicional) são prejudiciais e ditaram a ridicularização do mesmo. Mas José Soares traz bons pontos para a discussão e aborda o tema de um ângulo totalmente oposto, com uma argumentação refrescante. Fala em treinar (preparar o atleta para o esforço) para treinar para jogar, onde a força física tem de ser tida em conta no seu todo e não apenas pela sua manifestação "visível". A ver vamos para quando no futebol finalmente se enraizará uma maior consciência da preparação física.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Xavi. Porque quem sabe, nunca esquece

Porque é impossível esquecê-lo quando se pretende falar sobre aqueles que melhor representam o bom futebol. Talvez o mais claro exemplo futebolístico do génio que cria arte para os outros, antes mesmo de a criar para si próprio. O expoente máximo de uma geração espanhola que aprendeu a dominar o jogo através da simplificação de processos, e de uma filosofia que marcou o Barcelona na história do futebol.

Porque, valorizando-se tanto neste espaço a tomada de decisão e a criatividade no futebol, ele é uma referência incontornável. O derradeiro pragmático. Tudo o que faz tem a objectividade como prioridade máxima. Todas as acções que toma têm como grande objectivo aproximar a sua equipa do golo, da vitória. Toda a criatividade que apresenta possui naturalidade. A naturalidade de quem sabe que só tendo a bola pode brilhar. De quem a protege e guarda, portanto, de forma instintiva. De quem apenas a entrega em segurança, porque sabe que ela tem o poder de ser o elemento mais vital de todo o jogo. 

No Qatar, ao serviço do Al-Sadd, continua a fazer aquilo que melhor sabe fazer, e que faz como ninguém. Quem sabe, nunca esquece, e para quem joga o futebol como ele, a idade não é um problema.

Eis Xavi Hernández. Em vídeo. Porque é um crime para o futebol não podermos mais vê-lo nos grandes palcos, semanalmente.



segunda-feira, 7 de março de 2016

Manchester City : Os milhões de um plantel mal construído


Em 2008 o Manchester City foi tomado de posse pelo árabe Al Mubarak. O dinheiro árabe logo se fez sentir quando Robinho aterrou em Manchester vindo de Madrid a troco de 43 milhões de euros. O City tem, desde então, gasto muito dinheiro em jogadores. Exemplos de Tevez, Adebayor, Lescott, David Silva, Yaya Toure, Milner, Javi Garcia, Navas ou Fernandinho. Se há dinheiro bem gasto, embora talvez excessivo, também há dinheiro mal gasto e que tem retardado um sucesso mais constante do clube. Olhando a frio para os números, vamos para a 8º época do árabe à frente do clube e o City ganhou 2 títulos de campeão: um com dois golos nos descontos frente a um quase despromovido QPR e outro graças a uma vitória sobre uma equipa de reservas do Chelsea em Anfield, com o famoso escorregão de Gerrard. Mais grave que isso é o desempenho do City na Liga dos Campeões.

Este ano, como sempre, os citizens voltaram a gastar muito dinheiro. Sterling, Otamendi, De Bruyne e Delph custaram cerca de 200 milhões de euros. Jogadores com muita qualidade, são boas adições ao plantel do City mas para mim voltaram a descurar o reforço do plantel no seu todo, na sua profundidade. Não nos enganemos, o City pode facilmente formar um onze fantástico:

XI - Hart, Zabaleta, Kompany, Otamendi, Kolarov, Fernandinho, Touré, Silva, Sterling, De Bruyne, Aguero.

Top mundial. Onze para ser campeão em Inglaterra e para brilhar nas provas europeias. No entanto, uma época é longa, existem lesões, um calendário apertado e com ele uma necessidade crónica de rotatividade. Estamos numa fase crucial da época e o calendário apertou para o City, com jogos frente ao Tottenham e ao Leicester, com a eliminatória para a Taça de Inglaterra com o Chelsea, com a eliminatória da Liga dos Campeões frente ao Dínamo Kiev e com a final da Carling Cup frente ao Liverpool. Com isto, frente ao Chelsea para a Taça, o City apresentou o seguinte onze:

XI - Caballero, Zabaleta, Adarabioyo, Demichelis, Kolarov, Fernando, A.Garcia, M.Garcia, Celina, Iheanacho, Faupala.

Olhando para o onze, só Zabaleta e Kolarov supostamente são titulares. O City até tem opções, mas ou têm em abundância para certos lugares, ou tem jogadores (demasiado) bem pagos que acrescentam pouco ao plantel. Como exemplo, a questão dos laterais suplentes. Ou no ataque, onde para mim existem 4 números "10" nesta equipa (Touré, Silva, De Bruyne e Nasri) e apenas 2 extremos (Navas e Sterling) fazendo com que jogadores como Silva e De Bruyne acabem por deambular para as alas.

O City, com a contratação de Guardiola, tem agora uma oportunidade fantástica de se afirmar, finalmente, como uma equipa regular na Europa. No entanto, convém melhorar a distribuição dos milhões na profundidade do plantel.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

11 contra 11 e no final...ganha a Alemanha

Dois confrontos portugueses com equipas alemãs, duas derrotas contundentes e duas eliminatórias extremamente complicadas para Porto e Sporting. Embora por razões diferentes, a diferença de qualidade entre Leverkusen/Dortmund e Sporting/Porto fez-se sentir. Mas nesta "primeira parte" das eliminatórias, vou optar por me focar nos "dragões".

O Porto entrou em campo na Alemanha claramente limitado, sobretudo no sector defensivo. Peseiro viu-se obrigado a puxar Layún para o meio (e o mexicano, que parece não saber jogar mal, correspondeu), jogando ao lado de Indi, e colocou Varela como lateral direito. No meio-campo, Rúben Neves no lugar do habitual titular Danilo (de fora por castigo) e Sérgio Oliveira ao lado de Herrera. Na frente, a surpresa foi Marega, na ala direita.


Mas desde cedo se percebeu que a principal diferença não seria individual, mas sim colectiva. Este Dortmund de Tuchel joga muito futebol, e é uma equipa muito bem organizada e confortável com o seu estilo de jogo. Raramente vemos os seus jogadores tomarem decisões sem nexo, e nota-se uma complexidade ao nível da dinâmica, quer defensiva quer ofensiva, muito interessante. Prova disso foi a forma como, sem grande esforço, foi forçando o Porto a jogar longo logo na 1ª fase de construção, acção que acabava sempre por ser inócua pois, mesmo quando Aboubakar ou Brahimi (especialmente o argelino, dono de uma capacidade técnica fenomenal, mas que nem assim foi capaz de ter grande sucesso) conseguiam dominar a bola, o Dortmund encontrava-se sempre em superioridade numérica naquela zona. Digo "sem grande esforço", pois foi algo que não se deveu a uma especial intensidade ou agressividade sobre o portador da bola por parte dos alemães, mas sim a um posicionamento exemplar em praticamente todos os momentos sem bola.

E mesmo com bola. Marega, por exemplo, passou o jogo todo "colado" a Varela, no seu meio-campo defensivo, para poder acompanhar Schmelzer, que actuava quase como extremo-esquerdo quando o Dortmund se encontrava em fases de construção (ficando Piszczek sempre mais recuado, junto aos centrais, com Weigl sempre como linha de passe segura no corredor central. Uma espécie de losango na saída de bola, muito interessante em termos tácticos). Esse comportamento reaccionário de Marega, por sua vez, permitiu várias vezes a Hummels (que, no capítulo da construção, é para mim o melhor central do mundo na actualidade) progredir no terreno com bola, criando constantemente um desequilíbrio que o Porto nunca foi capaz de contrariar. Basta ver que o central alemão terminou o jogo com mais passes que o meio-campo do Porto...todo junto. Ainda no capítulo da organização ofensiva, impressionante como Kagawa recebeu várias bolas entre linhas e sem pressão no corredor central, contra um trio de médios que poucas vezes saíram desse mesmo corredor no momento defensivo. Inadmissível a este nível.


Vi surgir, a espaços, o argumento de que o Porto não fez mais no jogo por manifesta falta de vontade para assumir riscos, para subir linhas e para envolver mais jogadores no momento ofensivo. Embora esse argumento tenha algum fundamento, há que realçar também a forma como o Dortmund foi impedindo o Porto de o fazer, e como manietou a equipa portuguesa durante vários períodos do jogo. A vitória alemã nunca pareceu estar posta em causa, e fiquei até com a ideia de que, tivesse o Porto criado outras dificuldades ao Dortmund, e estes teriam capacidade para responder com uma exibição de um nível qualitativo superior àquele que apresentaram na quinta-feira. No jogo do Dragão, parece-me inegável que será necessário um Porto com outra atitude perante o jogo, um Porto que suba bastante a bitola qualitativa, de forma a poder ter hipóteses reais de discutir esta eliminatória.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Lições da Catalunha

Crescer a jogar



Fascinante a metamorfose de Neymar desde os seus tempos no futebol sul-americano para os dias de hoje. Se é óbvio que o contexto competitivo que encontrou na Europa o forçou a se adaptar, menos óbvia é a maneira como a influência que a filosofia e os colegas em Barcelona lhe proporcionaram. É agora um jogador muito mais eficaz do ponto de vista daquilo que pode oferecer de diferente ao jogo: imprevisibilidade, que beneficie o jogo coletivo. O brasileiro continua com a mesma qualidade técnica mas consegue agora fazê-lo para beneficiar da melhor forma a equipa. Utiliza o drible como arma, como chamariz, não necessariamente para progredir ou para o benefício da notoriedade. Atrai, atrai, atrai... e liberta. Quando assim se exige. Mais jogadores à sua volta implica menos jogadores em redor dos seus colegas e mais espaços abertos para penetrar que não os que pisa.






Continua a haver diversão. O atrevimento para tentar algo diferente em cada jogada. Mesmo que não seja com um objetivo imediato, porque nem tudo tem que o ter. Os caminhos para o golo, muitas vezes bem fechados por uma densidade adversária assinalável, precisam de ser trabalhados com objetivos a "longo-prazo". Atrair para enganar. Uma, duas, três vezes. As que forem preciso para que os erros do outro lado surjam para aí sim, ser incisivo.

Referir também, porque assim o merece, a evolução de Suarez. Noutro patamar de qualidade e com outros defeitos mas agora muito mais consciente das suas limitações. Um registo de transformação similar ao brasileiro, onde se percebe que agora compreende melhor o que a equipa necessita. Não extraordinariamente mas bem melhor do que há 2 anos atrás, por exemplo. Mais uma vez, a convivência com colegas que priorizam outras coisas que não o sucesso imediato e, claro, a humildade de o aceitar. De apaludir.

O penalty de Messi


E a criatividade nos momentos que menos se espera. De Messi para o Mundo:


Quantos pensariam sequer em fazer algo parecido? Poucos. Mas deviam ser muitos mais. Surpreendeu por isso mesmo e ainda bem que o fez. Nada é tão eficaz como concretizar algo que ninguém espera. Nota também para o chocolate de Messi na jogada que provocou o penalty. Que delícia.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Performance: a guide for dummies

Dia após dia, semana após semana, continuam a escrever-se asneiras sobre futebol que ajudam a consolidar uma mentalidade continuamente simplista. Como, por exemplo:

"Mas a ‘France Football’ vai mais longe e compara o rendimento de Slimani ao de Lionel Messi. «Com oito golos em seis jogos, em janeiro, o desempenho do argelino equipara-se ao de Messi, que marcou os mesmos golos em outros tantos jogos." - Notícia da France Football veiculada pela ABola em Portugal.

Comparações à parte, não interessa para aqui discutir as estatísticas individuais de cada um dos nomes citados, ou sequer os seus rendimentos nos respetivos clubes. Seja Slimani, Messi, fosse Ronaldo ou Talisca, a ideia mantinha-se a mesma.  O cerne da notícia é uma falsa questão, que não passa de um chamariz para atrair os mais levianos. Mais do que isso, é a noção que existe de rendimento e os dois pesos e dois medidas constantemente aplicados para situações deste género que se entranham e realmente irritam.

Ninguém é parvo o suficiente para afirmar que o futebol se resume a um ou dois momentos, aos números de golos ou à quantidade de assistências.  É uma ideia já amplamente aceite que não oferece qualquer resistência... quando perguntado diretamente, claro está. Mas é curioso que tão peremtórias afirmações se esfumacem no momento em que a discussão se eleva para patamares mais específicos ou quando não existe outro contra-argumento que ajude. Ou, simplesmente, para quantificar e qualificar o tão aclamado rendimento. Pergunte diretamente a alguém se acha que o número de golos define um bom avançado. Certamente que lhe dirão que não. Agora espere e com toda a certeza, mais cedo ou mais tarde, a mesma pessoa lhe irá argumentar o rendimento desse mesmo avançado com o número de golos que este tem ou não tem. É daquelas coisas que quando pensamos que já nos escapamos, elas voltam para nos perseguir, mais fortes e resistentes que nunca.

Faz-nos pensar se realmente existe uma compreensão da complexidade do jogo e o que isso acarreta para diferentes momentos e jogadores. Mais: se existe, realmente, uma coerência de opinião nesse sentido ou se simplesmente se usam os argumentos que estiverem mais à mão. Puxar para um lado quando interessa mas para o outro quando já não interessa. No meio, sofre quem quiser falar de futebol e deixar de lado patetices sem sentido; porque é muito mais cativante e significante falar sobre filosofias, sobre abordagens aos diferentes problemas que surgem, sobre um futebol pensado e estruturado. Se quero sair a jogar de trás, como me vou proteger em caso de perda? Que comportamentos promovo que estimulem nesse sentido? Se já tenho alguém a alongar a linha defensiva adversária, como vou povoar o espaço à frente dela? Procuro rapidamente a profundidade ou aguardo, circulo e abro espaços no bloco? Que indicações dou à minha equipa quando pressiono? Para onde oriento os apoios e quando decido o timing de pressão e consequente zona de pressão? E a distância a que quero a minha última linha dessa pressão? Os escudos dos números redutores escondem uma natureza multifacetada que nem todos querem ou se dão ao trabalho de falar.

De que interessa comparar o número de golos marcados por cada jogador, tendo em conta os seus diferentes patamares de qualidade, as suas diferentes características, os seus diferentes clubes e contextos competitivos, os diferentes modelos de jogo onde se inserem e até os diferentes níveis de dificuldade em adversários que encontraram neste período? Que conclusão relevante é possível retirar de uma avaliação tão simplista? Nenhuma. Dá para encher choriços, enganar tolos e ajudar, mesmo que inconscientemente, a perpetuar conceitos que acabam por moldar opiniões. Se calhar escrevendo um livro, todo bonito e com um aspeto empresarial, ajude a combater estas observações falaciosas. E de preferência em inglês, para lhe dar aquele toque international.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Talisca e as decisões com bola


Talisca nunca foi, nem nunca será, um prodígio com bola. Não pela vertente técnica mas pela pobre perceção do jogo, continuamente exposta jogo após jogo, nas opções que toma. O lance em análise é um de muitos que poderiam ter sido escolhidos, foi-o pela clamorosa situação de potencial 1x0 que Talisca não viu:


Com mais ou menos golos, com mais ou menos passes vistosos, Talisca poderá continuar a mascarar as suas debilidades perante quem olha para o jogo de forma superficial. Esperemos que, aos poucos, o paradigma vá mudando e que a valorização se foque no importante e não na fotografia.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Van Gaal e a comunicação no jogo

«Não sou sir Alex Ferguson, como sabem. Cada um é diferente e eu não grito para dentro do campo, não acredito nisso. Acredito em comunicação durante a semana, nos treinos, e acredito nos meus jogadores, que têm de cumprir», referiu o treinador do Manchester United em conferência de imprensa.

Interessante a afirmação do holandês, não pela demarcação que tenta fazer de Ferguson mas pela justificação da postura, contrária à ideologia comum, do treinador que berra e gesticula constantemente para dentro do campo. Não é caso raro ler na comunicação social e ver adeptos criticarem treinadores que não sigam esse caminho. Ou é porque está perdido, porque não sabe o que fazer... porque não tem "paixão". Porque paixão é ser intenso no banco, viver o jogo ao estilo entretainer e gritar constante e desalmadamente... claro que sim.

A percepção do comum adepto deixa muitas vezes a desejar. Porque é complicado colocar-se no papel de quem criticam. Porque as criticas se focam em comportamentos que não são considerados normais, daí serem maus. Porque, pela falta de conhecimento, valorizam mais o acessório que o fulcral. E porque, no fundo, gostam é de emoção, enquanto o futebol fica para segundo plano.

Por aqui, assim como para Van Gaal, coloca-se a exigência e a responsabilidade acima de atos de circo. Quem já teve a oportunidade de estar dentro de um campo de futebol facilmente admite a dificuldade que existe, em pleno jogo, do treinador fazer chegar informação aos jogadores, seja pela distância, pelo foco dos mesmo no jogo, seja pelo ruído exterior. Mas isso é só parte. O fundamental prende-se não só com a responsabilidade e exigência, mas também com a liberdade. A liberdade dos jogadores pegarem naquilo que foi treinado e aplicarem em jogo, consoante a situação com que se deparam. De alterarem o guião traçado para que este se adapte ao contexto. Mas também para passar a imagem que a intenção de proatividade deve advir deles e não só do treinador. Para isso, só dizê-lo não chega, é preciso que os nossos atos sejam coerentes com as ideias que são transmitidas, mesmo que isso implique ceder o controlo para as mãos de quem lideramos. Se o grande objetivo é formar jogadores responsáveis e conscientes que, a dado momento, possam ter a disposição e coragem de seguirem as suas próprias ideias quando o jogo assim o pede, então essa é a postura ideal.

E claro, liberdade para errarem. Ninguém mais sente tão intensamente os falhanços e insucessos que o próprio jogador e não vai ser uma chuva de críticas, venham elas do banco ou da bancada, a mudarem isso. A critica fácil só serve para alimentar o ego de quem a faz e como tal deve ser descartada, porque se não é fundamentada não vale de nada. Quanto menos Sá Pintos encontremos no futebol, melhor estará o jogo.