domingo, 7 de fevereiro de 2016

Performance: a guide for dummies

Dia após dia, semana após semana, continuam a escrever-se asneiras sobre futebol que ajudam a consolidar uma mentalidade continuamente simplista. Como, por exemplo:

"Mas a ‘France Football’ vai mais longe e compara o rendimento de Slimani ao de Lionel Messi. «Com oito golos em seis jogos, em janeiro, o desempenho do argelino equipara-se ao de Messi, que marcou os mesmos golos em outros tantos jogos." - Notícia da France Football veiculada pela ABola em Portugal.

Comparações à parte, não interessa para aqui discutir as estatísticas individuais de cada um dos nomes citados, ou sequer os seus rendimentos nos respetivos clubes. Seja Slimani, Messi, fosse Ronaldo ou Talisca, a ideia mantinha-se a mesma.  O cerne da notícia é uma falsa questão, que não passa de um chamariz para atrair os mais levianos. Mais do que isso, é a noção que existe de rendimento e os dois pesos e dois medidas constantemente aplicados para situações deste género que se entranham e realmente irritam.

Ninguém é parvo o suficiente para afirmar que o futebol se resume a um ou dois momentos, aos números de golos ou à quantidade de assistências.  É uma ideia já amplamente aceite que não oferece qualquer resistência... quando perguntado diretamente, claro está. Mas é curioso que tão peremtórias afirmações se esfumacem no momento em que a discussão se eleva para patamares mais específicos ou quando não existe outro contra-argumento que ajude. Ou, simplesmente, para quantificar e qualificar o tão aclamado rendimento. Pergunte diretamente a alguém se acha que o número de golos define um bom avançado. Certamente que lhe dirão que não. Agora espere e com toda a certeza, mais cedo ou mais tarde, a mesma pessoa lhe irá argumentar o rendimento desse mesmo avançado com o número de golos que este tem ou não tem. É daquelas coisas que quando pensamos que já nos escapamos, elas voltam para nos perseguir, mais fortes e resistentes que nunca.

Faz-nos pensar se realmente existe uma compreensão da complexidade do jogo e o que isso acarreta para diferentes momentos e jogadores. Mais: se existe, realmente, uma coerência de opinião nesse sentido ou se simplesmente se usam os argumentos que estiverem mais à mão. Puxar para um lado quando interessa mas para o outro quando já não interessa. No meio, sofre quem quiser falar de futebol e deixar de lado patetices sem sentido; porque é muito mais cativante e significante falar sobre filosofias, sobre abordagens aos diferentes problemas que surgem, sobre um futebol pensado e estruturado. Se quero sair a jogar de trás, como me vou proteger em caso de perda? Que comportamentos promovo que estimulem nesse sentido? Se já tenho alguém a alongar a linha defensiva adversária, como vou povoar o espaço à frente dela? Procuro rapidamente a profundidade ou aguardo, circulo e abro espaços no bloco? Que indicações dou à minha equipa quando pressiono? Para onde oriento os apoios e quando decido o timing de pressão e consequente zona de pressão? E a distância a que quero a minha última linha dessa pressão? Os escudos dos números redutores escondem uma natureza multifacetada que nem todos querem ou se dão ao trabalho de falar.

De que interessa comparar o número de golos marcados por cada jogador, tendo em conta os seus diferentes patamares de qualidade, as suas diferentes características, os seus diferentes clubes e contextos competitivos, os diferentes modelos de jogo onde se inserem e até os diferentes níveis de dificuldade em adversários que encontraram neste período? Que conclusão relevante é possível retirar de uma avaliação tão simplista? Nenhuma. Dá para encher choriços, enganar tolos e ajudar, mesmo que inconscientemente, a perpetuar conceitos que acabam por moldar opiniões. Se calhar escrevendo um livro, todo bonito e com um aspeto empresarial, ajude a combater estas observações falaciosas. E de preferência em inglês, para lhe dar aquele toque international.

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