quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Van Gaal e a comunicação no jogo

«Não sou sir Alex Ferguson, como sabem. Cada um é diferente e eu não grito para dentro do campo, não acredito nisso. Acredito em comunicação durante a semana, nos treinos, e acredito nos meus jogadores, que têm de cumprir», referiu o treinador do Manchester United em conferência de imprensa.

Interessante a afirmação do holandês, não pela demarcação que tenta fazer de Ferguson mas pela justificação da postura, contrária à ideologia comum, do treinador que berra e gesticula constantemente para dentro do campo. Não é caso raro ler na comunicação social e ver adeptos criticarem treinadores que não sigam esse caminho. Ou é porque está perdido, porque não sabe o que fazer... porque não tem "paixão". Porque paixão é ser intenso no banco, viver o jogo ao estilo entretainer e gritar constante e desalmadamente... claro que sim.

A percepção do comum adepto deixa muitas vezes a desejar. Porque é complicado colocar-se no papel de quem criticam. Porque as criticas se focam em comportamentos que não são considerados normais, daí serem maus. Porque, pela falta de conhecimento, valorizam mais o acessório que o fulcral. E porque, no fundo, gostam é de emoção, enquanto o futebol fica para segundo plano.

Por aqui, assim como para Van Gaal, coloca-se a exigência e a responsabilidade acima de atos de circo. Quem já teve a oportunidade de estar dentro de um campo de futebol facilmente admite a dificuldade que existe, em pleno jogo, do treinador fazer chegar informação aos jogadores, seja pela distância, pelo foco dos mesmo no jogo, seja pelo ruído exterior. Mas isso é só parte. O fundamental prende-se não só com a responsabilidade e exigência, mas também com a liberdade. A liberdade dos jogadores pegarem naquilo que foi treinado e aplicarem em jogo, consoante a situação com que se deparam. De alterarem o guião traçado para que este se adapte ao contexto. Mas também para passar a imagem que a intenção de proatividade deve advir deles e não só do treinador. Para isso, só dizê-lo não chega, é preciso que os nossos atos sejam coerentes com as ideias que são transmitidas, mesmo que isso implique ceder o controlo para as mãos de quem lideramos. Se o grande objetivo é formar jogadores responsáveis e conscientes que, a dado momento, possam ter a disposição e coragem de seguirem as suas próprias ideias quando o jogo assim o pede, então essa é a postura ideal.

E claro, liberdade para errarem. Ninguém mais sente tão intensamente os falhanços e insucessos que o próprio jogador e não vai ser uma chuva de críticas, venham elas do banco ou da bancada, a mudarem isso. A critica fácil só serve para alimentar o ego de quem a faz e como tal deve ser descartada, porque se não é fundamentada não vale de nada. Quanto menos Sá Pintos encontremos no futebol, melhor estará o jogo.

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