quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O Rei do Chutão

«The really good players are the ones who never lose the ball. Those who know how to pass it and who never lose it. They are the good ones. And that’s who you must always use, even if they are lower profile than the rest.»
Pep Guardiola

Corria o minuto 89 em Alvalade. Minutos antes, o Sporting adiantara-se finalmente no marcador, por intermédio de Jefferson, e tinha assim uma oportunidade de ouro de encurtar a distância para o maior rival para 4 pontos e relançar a luta pelo título. Assim sendo, nos poucos minutos que restavam, era imperioso não deixar o Benfica ter a bola, necessitando o Sporting, para isso, de a conservar em seu poder longe da sua grande área e de baixar o ritmo do jogo o mais possível, por forma a desgastar o adversário física e psicologicamente. Nestas circunstâncias, como permitir então o empate? Simples. Ter jogadores displicentes, com uma capacidade de decisão sofrível e escassa qualidade com bola.


Atentemos num momento em que o Sporting tenta - e bem! - circular a bola a toda a largura, com paciência e critério. No instante em que a imagem pára, a bola está a vir da meia direita para a direita, mas, infelizmente, o destinatário do passe de Paulo Oliveira é Cédric, um dos jogadores mais acarinhados pelo público leonino e um dos que mais escapa às críticas negativas, sem se perceber muito bem o porquê, já que é, a alguma distância, o elo mais fraco do onze. Vejamos então o que acontece quando a bola chega aos pés de Cédric.


Na altura em que se prepara para receber a bola, Cédric tem três opções: a) devolver o passe a Paulo Oliveira, que já estava posicionado para fornecer o apoio recuado; b) usar a linha de passe interior, dada por Mané; c) ficar com a bola, tentando ganhar uma falta ou um lançamento de linha lateral. Todas estas opções, com maior ou menor risco, permitiriam ao Sporting o que era verdadeiramente essencial naquela fase crítica do jogo: ter a bola! Mas Cédric, com a falta de inteligência a que já nos habituou, resolve o lance da única maneira que conhece, ou seja, com um balão sem nexo para onde estava virado.



Repare-se que o esférico ainda não saiu dos pés de Paulo Oliveira e toda a linguagem corporal do lateral direito leonino dá a entender que não equaciona sequer outra hipótese que não seja livrar-se da bola a todo o custo, como se fosse uma granada prestes a explodir. O lance, que até nem era especialmente exigente do ponto de vista técnico ou de decisão, claro está que acabou nas mãos de Artur e o Benfica pôde recomeçar nova vaga de ataque, conseguindo mesmo chegar ao empate, nos últimos segundos do encontro.

Responsabilizar unicamente Cédric por estes dois pontos perdidos seria uma análise demasiado simplista e redutora e esse está longe de ser o propósito deste texto, mas, para quem vê os jogos do Sporting com olhos de ver, decisões destas são recorrentes em Cédric. É um lateral rápido, abnegado e com alguma competência no 1x1 defensivo, mas a sua qualidade com bola é francamente insuficiente para este nível, sobretudo se fizermos a comparação com os laterais que Porto e Benfica têm à sua disposição. Mesmo Maxi Pereira, que está longe de ser um lateral de eleição, tem um leque de recursos ofensivos que não está ao alcance de Cédric. Para os mais cépticos, só peço que estejam atentos aos próximos jogos do Sporting e que contem o número de vezes em que ele traz o jogo para dentro para criar desequilíbrios, em que ganha a linha de fundo e cruza atrasado em vez de mandar a bola para a molhada, em que sai da pressão através do drible, em que usa os apoios interiores para progredir, em que faz um passe de mais de 2 metros que não seja a «queimar» o colega. Muito poucas! Não, as suas acções com bola são do mais básico e rudimentar que há e se, há uns anos, não se exigia tanto, em termos ofensivos, dos jogadores que jogam em posições mais recuadas, actualmente, com o aperfeiçoamento crescente das estratégias defensivas, todas as posições, sem excepção, devem ter jogadores capazes de realizar mais do que duas ou três acções padronizadas e previsíveis. Num clube grande como o Sporting, torna-se mesmo obrigatório.

Enfim, é Cédric no seu melhor. O verdadeiro rei do chutão.

P.S. No meio-campo, embora em muito menor escala, existe um problema semelhante e chama-se Adrien Silva. Mas quando Ryan Guald começar a aparecer com mais frequência na equipa principal, como espero que venha a acontecer a curto/médio prazo, talvez se perceba que Adrien, apesar de ter valor, não é tudo aquilo que dizem que é, nomeadamente a nível ofensivo.

3 comentários:

Unknown disse...

Pensei que fosse o Maicon

Vulgar Knight disse...

Grandes posts, Refutador(este e o outro sobre criatividade)!

O Cédric foi um jogador em que acreditei bastante até uma certa fase, mas tem sido uma desilusão enorme. A qualidade técnica até está lá, mas isso não interessa para nada quando se decide tão mal com bola como ele. Muitos dizem que o Cédric é um jogador muito abnegado, com uma grande atitude. Para mim, tem provado não ter atitude nenhuma. Porque, para mim, ter atitude é ter a audácia e a coragem de procurar o melhor para a equipa, mesmo que isso seja mais complicado. Envolve uma procura incessante pela sua melhoria como jogador, procurando pensar cada vez mais, melhor e mais rápido quando executa. Ora, o Cédric, como muito bem expuseste, não faz nada disso. Não faz senão o fácil, tem pouquíssimas soluções com bola, a saber: chutar para a frente quando está apertado e cruzar sem ver quando está na linha de fundo. Isto é um jogador que se quer manter "pequeno" e que não pretende sair da mediocridade.

Fico feliz por o blog estar mais ativo, pois sei que quem aqui posta tem os conhecimentos sobre o jogo para fazer deste espaço algo de grande qualidade na discussão sobre o jogo.

Zinedine Zidane disse...

João Ferreira,

Sim, também podia ser o Maicon :)

PicaretaLeonina,

Antes de mais, obrigado pelas palavras elogiosas e esperamos ver-te mais vezes por aqui, quer seja para concordar, quer seja para discordar das posições que aqui defendermos.

Quanto ao Cédric, subscrevo tudo o que disseste. É um jogador que conheço relativamente bem, já desde os seus tempos de júnior (onde chegou a jogar como médio ofensivo!) e, tal como tu, também depositava muitas esperanças nele, mas acho que foi o típico caso de mau aconselhamento na transição para sénior. «Agora vais jogar na primeira divisão, isto não é para meninos pá! Tens que encher, porque com esse físico não vais a lado nenhum, e nada de inventar. Se está apertado, joga simples, aqui não se pode inventar.» Qualquer coisa do género...É notório que o Cédric joga para se proteger dos assobios e das críticas e não arrisca um milímetro que seja quando tem a bola. Quem é que vai criticar um jogador por ganhar a linha de fundo e mandar uma bola para a molhada? Até recebe aplausos, provavelmente. Mas o futebol de alto nível actual é cada vez mais um jogo em que é preciso correr riscos, um jogo em que cada vez há menos espaço para a «especialização» e estes jogadores demasiado unidimensionais, mais tarde ou mais cedo, acabam por estagnar e não atingir o nível que podiam atingir.

Enfim, podia ter sido um lateral diferente, mas escolheu ser um igual aos outros. São opções. Mas ainda é novo e pode ser que tenha a sorte de apanhar um treinador que queira que os seus laterais façam mais do que correr em frente e cruzar...Sim, porque o Marco Silva e sobretudo o Leonardo Jardim não foram exigentes o suficiente nesse aspecto e isso também a sua importância.