segunda-feira, 2 de março de 2015

Notas soltas sobre o Clássico

- Porto com uma entrada expectante no jogo, mas a melhorar à medida que o tempo passava. O primeiro golo funcionou como "click" para acordar definitivamente a equipa. Muito fortes na reacção à perda da bola e na forma como souberam escolher muito bem os timings de pressão. Ofensivamente, grande mérito para a forma como conseguiram, de forma relativamente rápida, identificar o ponto fraco do Sporting e aquele que lhes poderia trazer grandes benefícios (a profundidade e o espaço entre o central e o lateral, sobretudo do lado direito do seu ataque), e canalizar por aí todos os momentos em que procuraram essa profundidade, através da velocidade de Tello. Com outra qualidade no capítulo do passe e da leitura de jogo (aspectos onde Casemiro e Herrera acabam por prejudicar mais do que ajudar, embora o mexicano também tenha feito um grande passe para o terceiro golo dos azuis e brancos), o espanhol poderia ter tido uma noite ainda mais brilhante, visto que Jonathan Silva nunca pareceu capaz de o travar;


- Sporting superior nos primeiros 20 minutos, mas horrível a partir daí. Pior exibição da época para a equipa leonina. Impressionante, pela negativa, a forma como, com o avançar do jogo, foram completamente incapazes de construir uma jogada "com pés e cabeça". Ligação entre sectores praticamente nula. Defensivamente, a coordenação, organização e equilíbrio da linha defensiva é assustadora, e os dois últimos golos do Porto são exemplos claros disso. Aliás, em ambas as jogadas, não faz sequer sentido falar-se numa "linha defensiva". É caso para perguntar qual é, exactamente, o trabalho que Marco Silva realizou neste aspecto nos quase 8 meses que leva no Sporting;

- Individualmente, além de Tello, homem do jogo, há que destacar claramente outro jogador: Evandro. Grande exibição do médio brasileiro. Como Lopetegui referiu, e muito bem, na flash-interview, Evandro, acima de tudo, traz futebol à equipa. E não há mesmo melhor forma de o descrever. Quando recebe, já sabe qual será a sua próxima acção. Pensa rápido, executa rápido e sabe de cor todos os passos para chegar aonde quer chegar. Entrega no colega, e, de forma natural, a sua primeira reacção é dar uma nova linha de passe ao portador da bola. Joga a 2/3 toques sempre que possível. Assim, de forma aparentemente simples, mas que parece tão complexa para alguns. Evandro é o oxigénio de qualquer equipa que goste de ter a bola e que goste de praticar bom futebol. Apenas um reparo: é uma pena que Lopetegui pareça não contar com ele para o lugar ocupado actualmente por Herrera. Evandro e Óliver podem (e devem!) coexistir no 11. E o futebol do Porto evoluiria imenso com isso;

- Do lado do Sporting, muito pouco a destacar pela positiva. João Mário e William ainda se esforçaram, mas cedo se viu que estavam muito desacompanhados. Na defesa, Paulo Oliveira foi curto para acudir a tantos fogos. Limpou o que conseguiu, mas teve uma tarefa muito ingrata. Já pela negativa, destaque claro para dois jogadores: Adrien e Fredy Montero. O primeiro voltou a realizar uma exibição horrenda, falhando a grande maioria das suas acções com bola, e demonstrando muita vontade mas pouca inteligência sem ela. É claramente um dos elos mais fracos deste Sporting, e a equipa já não beneficia em nada da sua presença no meio-campo. Quanto ao colombiano, fez a sua pior exibição desde que chegou a Portugal. Incrível como, sendo um jogador que muito frequentemente se caracteriza pela sua inteligência, visão de jogo e capacidade de dar sempre o melhor seguimento à jogada, Montero conseguiu ontem errar em praticamente todas as suas acções no jogo. Um jogo para esquecer. Ou para relembrar;

- Por fim, não podíamos mesmo acabar este texto sem dar o devido destaque ao jogador mais genial do jogo de ontem, e também ao momento mais genial do jogo (quiçá da época). Jackson Martínez, e o seu calcanhar, que começa a ser famoso. Aquilo que o colombiano faz no primeiro golo do Porto é algo que só está ao alcance dos predestinados, dos génios. Um momento de magia, daqueles que delicia qualquer fã do jogo. Num jogo até aí relativamente mal jogado, e até algo aborrecido, Jackson puxou do pincel e pintou uma obra de arte, que catapultou o Porto para uma estrondosa e inquestionável vitória no Clássico. Vale a pena ver e rever. E rever. E rever...

1 comentário:

Anónimo disse...

Boa análise, parabéns.