segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O retorno do filho pródigo. Ou talvez não...



O Arsenal e o seu treinador Arsène Wenger declinaram o retorno de um dos seus ídolos, o catalão Cèsc Fabregas. Pode-se dizer que o filho pródigo foi rejeitado pelo seu próprio pai…
Em jeito de introdução, relembro que o mítico nº4 foi um dos melhores médios que o Arsenal conseguiu ter na sua equipa (também apimentando a formação e o facto de ter chegado muito cedo a Londres) e que surge numa altura em que sobravam alguns resquícios das brilhantes equipas que o Arsenal tinha tido há poucos anos atrás e onde “apenas” contava com nomes como Bergkamp, Henry, Pires, entre outros.
Fábregas foi um dos top class players que ficou no Arsenal, mesmo após uma perda de poder gunner face a outras equipas que teimavam a não deixar o clube continuar na senda vitoriosa que até aí se encontrava - casos do Chelsea de Mourinho, o Man United de Sir Alex, um rival Tottenham mais consistente e intrometido nas contas do top4 e um City a endinheirar-se de petrodólares.          
Após algumas novelas de Verão, Cesc Fàbregas voltou ao seu querido Barcelona para se juntar ao tiki-taka catalão que devorava o Mundo pela mão de Pep Guardiola. O resto, é o que se sabe: um Arsenal entusiasmante ofensivamente mas com as suas constantes falhas defensivas (principalmente na transição) e que se contentava com um lugar no top4; um Barcelona a conquistar um lugar na história pelo uso intensivo da sua cantera, pelos sucessivos passes rasteiros e trocas posicionais, e, por conseguinte, pelas vitórias avassaladoras.


Acontece que a época passada (2013/2014), face também à inadaptação de Tata Martino ao estilo de jogo “barcelonesco” (que levou a um 2º lugar na La Liga e a uns Quartos de Finais da Champions) e à quebra da hegemonia do Barcelona, foi anunciado que Fàbregas queria sair do clube para se juntar, à que ele considerava ser, a melhor liga do mundo: a English Premier League.

Tudo faria sentido: o filho que desejava voltar a casa e um pai de braços (e bolsos) abertos à espera de filhotes que lhe trouxessem mais evidência futebolística – Fábregas tinha de ir para o “seu” Arsenal. Para favorecer toda esta situação, existia uma cláusula de recompra de “só” 25M de libras. Tudo estava perfeito: iríamos ver Fábregas a espalhar magia por Londres.
Acontece que … tal não se verificou – pelo menos não no lado que se suponha. Conforme anunciado por Wenger numa conferência de imprensa, tinham acabado de rejeitar Cesc Fàbregas de volta ao Arsenal.
A decisão é tão hedionda quanto ridícula e tem contornos inacreditáveis… Vejamos: 
  1. Fàbregas despontou no Arsenal a jogar como médio box-to-box e como médio-ofensivo (atrás do ponta-de-lança), com movimentos de ruptura – não só através de condução e progressão com bola, mas também com desmarcações notáveis sem bola, aproveitando um arrastamento da linha defensiva provocada pelos seus colegas. No Barcelona jogou a médio-interior do 4-3-3 e do 3.4.3, a extremo e na posição chamada “falso nove”. Na verdade, Fábregas joga onde for preciso: a trinco, médio-centro, box-to-box, interior, nº10, extremo, ponta-de-lança, you name it! Consigo antever quase todas as posições do meio-campo para a frente em que Cesc conseguia dar o seu (enorme) contributo a uma equipa de futebol, apresente-se que esquema táctico se escolher. Aliás, a qualidade é tão abusiva e tão gritante que até a central daria um jogador fantástico. 
  2. Wenger acumulava uns longo 8 anos sem um único título e muitas desculpas se apontaram nesse sentido: delapidação do seu plantel (Fábregas a sair, Clichy, Nasri, Van Persie, Song etc.). Será somente este o problema? A eterna questão da transição defensiva e um gabinete médico frequentemente visitado (metodologia de treino desajustada?) continuam por explicar e por resolver … 
  3. Com a suposta liberdade financeira que agora abunda pelo Emirates Stadium, gastar 25M de libras num jogador fantástico como Cesc Fabregas seria o quê…? Um luxo inexcedível? 
  4. Wenger clarificou que para a posição de Fábregas já teria Mesut Ozil, contratado por 50M de euros no defeso passado. Mas os bons jogadores não podem jogar juntos? Seria assim tão grave colocar Ozil numa ala e colocar Fabregas atrás de Giroud? Ou mudar o sistema para um losango (aproveitar a quantidade de médios criativos que o Arsenal possui) e colocar Giroud e Fàbregas lá na frente? Ou jogar lado a lado no duplo pivot com Ramsey/Wilshere/Arteta/Flamini e deixar Özil a desequilibrar lá na frente?
  5. Quereria Wenger um catalisador mais possante para acabar de vez com o jejum e lutar por algo mais ambicioso do que contratar um jogador que já foi capitão do clube que treina e que é um dos melhores médios do mundo? Quereria Wenger um tónico mais forte que contratar um dos melhores jogadores do mundo para assustar a concorrência, inspirar o seu balneário e confirmar todo o potencial de “futebol bonito e prático” que o Arsenal tem vindo a fabricar nos últimos anos? 
  6. Por último, deixá-lo ir para um rival geográfico e para um dos concorrentes mais fortes ao título inglês é qualquer coisa de inacreditável…




De facto, poucas razões sobram para Wenger sequer justificar uma decisão tão absurda quanto esta.
É certo que o Arsenal deu ontem 3 secos a um fraquito City na Community Shield, que Aléxis (o novo timoneiro gunner) brilhou e que a exibição alegrou todos os gooners espalhados pelo mundo… Mas o meu “gut feeling” é que esta rejeição a Fàbregas foi só uma consequência da estratégia (errada, aparentemente) que Wenger tem dado ao clube desde a sua senda Invincible: muita parra e pouca uva – muita expectativa inicial e pouquíssimos resultados concretos.

Como simpatizante do Arsenal, espero que isto sejam só exageros da minha parte e que o Arsenal consiga efectivar todo o seu potencial futebolístico e conquiste algo significativo. O futebol agradece.
 

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