domingo, 19 de julho de 2015

Transição Defensiva: Física ou Mental

Porque para evoluir é preciso compreender, hoje analisamos o momento de Transição Defensiva. O que é, afinal, mais importante no momento imediatamente posterior à perda da bola? Uma boa capacidade física ou uma forte mudança cognitiva?


Enquadrando, falamos de um momento onde o equilíbrio se torna em desequilíbrio. Aquando da perda, a distensão espacial da equipa no momento ofensivo condena a um instantâneo encurtamento de espaços. A transferência de um estado dominante (com bola) para um estado de submissão (sem bola), origina alterações emocionais morosas de gerir, porque todos gostam de correr com bola, mas poucos gostam de correr sem ela.


Para propósitos conjecturais, assumamos que uma equipa que perca a bola se encontra desequilibrada do ponto de vista organizacional, extremando a resposta necessária da mesma e isolando o conceito. Sejam quais forem os princípios regentes do momento, importa preparar a velocidade de resposta para reagir à iminente ameaça. Entrando na questão que abriu o tema, numa boa resposta prevalece o físico ou do mental? Nenhum. E ambos. Nem a vertente física se sobrepõe à resposta cognitiva nem o contrário acontece. Ambas trabalham em conjunto e qualquer uma que se encontre em défice irá comprometer todo o processo. Seria o mesmo que perguntar: entre o coração e os pulmões, qual deles é o órgão mais importante? Nenhum e ambos, porque um sem o outro não faz sentido.


Acima de tudo, a pergunta está errada. Não interessa dar mais importância a determinada vertente se ambas andam de mãos dadas. Interessa sim considerar o momento como um todo e treinar dentro de parâmetros (físicos e táticos) válidos e coerentes. Treinar segundo determinado princípio implica uma resposta morfológica específica e de nada vale esse princípio se quem o executa não possui capacidade física ou cognitiva para o realizar. Operacionalizar partindo do princípio que um implicará, mais cedo ou mais tarde, o outro, é desinformação. A implementação de ideias está sempre, sempre, subjugada às valências naturais de cada jogador. Contextualizar essas valências, sejam elas cognitivas ou físicas, no nosso modelo é pender a balança a nosso favor. Não o fazer, desvalorizando uma ou outra, é mais um caminho em direção ao insucesso.

2 comentários:

Unknown disse...

João, entendo o teu ponto mas não concordo.
Muito basicamente: quando perdemos bola pedimos aos jogadores (espicaçamos para) que Reajam rápido, não que corram mais depressa.
Em relação à vertente do treino, sim, treinamos ambas ao mesmo tempo e sim, uma sem a outra não fazem sentido mas.. podemos ter jogadores (fisicamente) lentos com TD fantásticas e jogadores rápidos com TD péssimas.. é a questão Mental que diferencia.
Obviamente o ideal é ter ambas as vertentes num nível elevado mas (para o propósito da discussão) se tivesse que escolher 1, seria a vertente Mental; um jogador com uma grande capacidade mental consegue-se superar enquanto um jogador um jogador mais físico até poderá ter capacidade para a transição mas não a realizar; se tiveres um ‘défice’ físico podes compensar com uma grande ‘atitude’ (da mesma forma que o Iniesta e o Xavi não precisam de ser altos/fortes/rápidos para terem a dimensão que têm) enquanto que se tiveres um défice de ‘atitude’ , não há físico (ou qualidade técnica) que te salve..
Novamente, sim, queremos treinar ambos (e em conjunto) mas se tiveres que escolher entre um jogador fantástico mentalmente e outro fantástico fisicamente, acho que a escolha é ‘fácil’

João Ferreira disse...

Boas Zé. É bom ter o teu contributo por aqui;

"...quando perdemos bola pedimos aos jogadores (espicaçamos para) que Reajam rápido, não que corram mais depressa."

Pois pedimos, mas uma coisa implica a outra. Seria o mesmo que quereres implementar uma cultura de transições ofensivas rápidas, onde tens jogadores com uma capacidade enorme de colocar bolas em profundidade mas não teres elementos capazes de chegarem rápido na frente. Não te valia de muito pedires lançamentos longos se ninguém lá estivesse para os receber a tempo. Aqui passa-se o mesmo. Uma rápida reação implica um abrupto estímulo fisiológico. Claro que existem maneiras de dar a volta à situação, promovendo a proximidade de jogares no momento de posse por exemplo, mas no fundo ambas as vertentes estão intrinsecamente associadas. Ainda para mais com o decorrer do jogo e com o desgaste a ele inerente, mais dificilmente essas reações conjuntas ocorrem e por muita percepção que tenhas do que queres fazer, sem teres as pernas para o executar... não dá.

"um jogador com uma grande capacidade mental consegue-se superar enquanto um jogador um jogador mais físico até poderá ter capacidade para a transição mas não a realizar; se tiveres um ‘défice’ físico podes compensar com uma grande ‘atitude’ (da mesma forma que o Iniesta e o Xavi não precisam de ser altos/fortes/rápidos para terem a dimensão que têm) enquanto que se tiveres um défice de ‘atitude’ , não há físico (ou qualidade técnica) que te salve.."

Não necessariamente. Para mim, a máxima do "a mente controla o corpo" não tem a ver com uma rápida percepção e reação à situação mas sim com a capacidade de superação da fadiga, são coisas diferentes. Neste caso estamos a falar de situações extremas, ou seja, onde as implicações da estrutura organizacional da equipa se reduzem ao mínimo possível. Na maioria dos casos, com bons princípios modelares, concordo contigo e também prefiro jogadores cognitivamente superiores. Neste caso específico, onde apenas nos focamos no individual, essa diferença não é notória, porque assumindo que um jogador possuí uma grande capacidade de superação, ser afetado mais por cansaço físico ou mental não vai criar uma distinção na quantidade e qualidade de ação.

Os casos do Xavi e do Iniesta são interessantes porque ambos podem não ser dotados fisicamente (no sentido convencional) mas... são fortes no que interessa. Podem não correr desalmadamente nem ter uma força de choque ao nível de outros, mas conseguem, naqueles segundos fundamentais após a perda, fechar espaços e cair em cima do adversário. Todo o mérito para a enorme capacidade mental que apresentam, até face ao desgaste, mas se não conseguissem pôr em prática "fisicamente" aquilo que percepcionam (e isso implica drásticas mudanças de direção e intensas contrações num curto espaço de tempo) nunca seriam tão excelentes como são nesse momento.

No contexto de treino estamos na mesma página mas olha que ainda há muitos a pensar o contrário, para um lado como para o outro. O mais importante é reconhecer que não existe distinção, o que conta acima de tudo é a qualidade de execução e não necessariamente se nasce num lado ou no outro. Isto, e volto a frisar, em contexto individual. Numa perspectiva macro, existem outras variáveis a considerar.