quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Ancelotti e Jesus: o mérito das ideias

Mesmo dentro de toda a inutilidade que diariamente enche os jornais desportivos, por vezes é possível encontrar pequenos tesouros que nos mostram aquilo que realmente importa. Pena que quem realmente sabe não tenha mais tempo de antena.

Ancelotti



"O importante é ter haver uma boa relação entre treinador e jogadores, mostrar aquilo em que acreditas e conseguir convencer os jogadores do mérito das tuas ideias. Nunca é bom quando se impõem coisas aos jogadores. É importante que o grupo acredite no que o treinador faz e ter a certeza que tal é aceite por todos."


Descontando os já habituais erros gramaticais, o sumo das declarações de Ancelotti revelam o bom-senso e inteligência a que o italiano já nos habituou. Toca num tema que já foi aqui abordado e que nunca é de mais reiterar: a sedução através da qualidade das ideias como fator determinante para conquistar a confiança do grupo e, por consequência, chegar mais perto do sucesso. O tempo do "mandar fazer" já passou e com a crescente consciencialização dos jogadores, mais será exigido dos treinadores para justificarem as suas opções aos olhos de quem lideram. Um paradigma que beneficia todos os que nele se encontram.

Jorge Jesus


"Primeiro tens que olhar para o jogador não só do ponto de vista da qualidade técnica, mas também a componente física: será que este jogador tem as condições físicas para desempenhar esta função? A partir daí vais para a técnica e para a tática, que tens de lhe ensinar. É preciso ter em conta estas três vertentes: física, técnica e táctica. Agora já há muitos treinadores a tentarem fazer o que eu fiz, mas é preciso mais do que meter um jogador a jogar numa posição, isso é curto, tens de ver se o jogador tem condições para o fazer. E tudo começa no físico. Um jogador que se transformou completamente, de um ala para um médio organizador, foi o Enzo Pérez. É o mais difícil, porque é preciso fazer com que ele acredite que pode fazer essa posição. O Fábio Coentrão passar de extremo a lateral, não é uma transformação tão radical. O Enzo e o Matic, que era "10" e passou a "6", são os jogadores que eu tirei da sua posição para encaixar na ideia que tinha de jogo. Mas isto só se faz se o jogador acreditar que é capaz: se ele não acreditar, nada feito". 

As declarações de Jesus são, por norma, uma delícia de se "ler". Explicitamente ou entre-linhas, o amadorense proporciona sempre um vislumbre daquilo que é a sua lógica de trabalho. Apesar de num registo mais individual, Jesus bate na mesma tecla: o jogador só faz o que se pretende se acreditar nas ideias do treinador, se for seduzido a tal e não forçado. Nunca foi tão importante como agora saber persuadir para transmitir informação. Jesus pode não ser um ás da língua portuguesa mas no que interessa, na interação no campo e no treino, prova ter valências mais que suficientes para convencer e transformar mentalidades. 

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