quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Mourinho: Regresso ao passado?

Dizia Mourinho, há 10 anos atrás: 

"Assumir sempre os jogos, não se descaracterizar perante os adversários, é uma característica das minhas equipas. Já o era quando treinava o União de Leiria, que era uma equipa que não tinha essa obrigação. Para mim, o mais importante é sempre a nossa própria equipa e não o adversário"

Esta foi a filosofia que consagrou a carreira do português, que cativou e impulsionou uma nova geração de treinadores. Entre várias outras ideias, com o conceito de assumir o jogo em todos os seus aspetos (com as particularidades que daí advém) conseguiu proporcionar um salto qualitativo gigante em quase todas as equipas onde treinou.

No entanto, o foco parece ter mudado em anos recentes. Se para melhor ou pior, depende sempre do contexto em que determinada equipa se encontra. Existe um argumento a ser feito que, cada vez mais, as equipas de Mourinho apresentam um estilo de jogo baseado no adversário.

Mourinho sempre demonstrou ser um dedicado estratega. Ele, mais consistentemente que ninguém, conseguia apetrechar as suas equipas de argumentos que contrariassem as qualidades dos adversários e aproveitassem os seus defeitos.

Tudo se relaciona. Desde a forma como se ataca que condiciona a transição defensiva (que por sua vez condiciona a forma como se defende, etc), à simples substituição de um jogador por outro. Mais ou menos subtis, as variações, seja de que natureza forem, estão lá. Como tal, é erróneo esperar que um maior ênfase na vertente estratégica não afete a matriz de identidade de uma equipa, por mais consciente e competente que a mesma seja.

Existe um equilíbrio ideal a ser alcançado entre estratégia e identidade própria e esse equilíbrio parece ter vindo a desaparecer em Mourinho com o passar do anos. Acompanhar o Chelsea tem sido acompanhar uma equipa sem conseguir impor domínio seja em que campo for. Sem ter uma identidade bem vincada que obrigue o adversário a adaptar-se às adversidades impostas. O domínio coletivo outrora massacrante e asfixiante foi substituído por lampejos de inspiração individual, onde a equipa deixou de atuar como um todo segundo uma ideia global.

É por isso refrescante ouvir os seus comentários na antevisão do jogo de hoje com o FC Porto: 

"Mais do que falar do F. C. Porto tenho de me preocupar com a minha equipa, porque estamos numa fase em que a preocupação é o que nós fazemos e não é o que faz o adversário. Em condições normais estaria mais preocupado com o F. C. Porto do que aquilo que estou. Estou muito mais preocupado com a minha equipa. Muito honestamente nunca me preocupei tão pouco com os adversários como agora. Porque agora preocupo-me com a minha equipa".

Será interessante ver o desenrolar da história, não só no jogo de hoje mas no futuro a curto-prazo do clube inglês. Os conceitos que o mesmo há 10 anos atrás defendia e elevavam as suas equipas continuam a diferenciar os bons dos melhores. Revisitar o passado dará àquele que tanto conquistou a oportunidade de mais uma vez se diferenciar dos restantes no que mais importa: o jogo jogado.

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