sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Intencionalmente intuitivo

Poucas coisas darão mais prazer a um treinador do que ver os seus pupilos, em jogo, a empregar as suas ideias. Prazer e resultados, se as mesmas forem boas. Mas qual a melhor maneira de as transmitir?

Uma boa ideia por si só pouco alcança. Por outro lado, até a pior ideia pode cativar muitos se for entregue de forma eficaz. É fundamental saber como comunicar, quando, onde e porquê. Com mais ou menos vocabulário. Com mais ou menos intensidade, sempre dependendo do contexto da situação.

No entanto, nenhuma ideia se fixa mais intensamente do que aquelas que nós próprios descobrimos. Quando somos nós a arranjar soluções e não o colega ou o treinador, expande-se a vontade e a capacidade de criar e adaptar.

Numa realidade altamente complexa e imprevisível como o futebol, tal qualidade torna-se inestimável. Interessa pois a sua constante estimulação, para que perante diferentes situações as respostas seja variáveis (perante certa ideia de jogo) e não completamente padronizadas.

Mas foquemo-nos na transmissão de informação de emissor para recetor. As ideias da mente do treinador para as atitudes do jogador, através de uma aprendizagem... intuitiva.

Não é de descurar a fase de maturação do ouvinte quando falamos de comunicação, pela maior ou menor facilidade em compreender determinadas terminologias e conceitos. E, dependendo da personalidade, determinado jogador reagirá melhor ou pior perante modelos similares de comunicação. Mas se a mesma for feita de forma "indireta", germinando-se intencionalmente na mente do jogador sem que o treinador o force diretamente a tal... é mais de meio caminho andado para que se alcance o objetivo.

Voltando a uma das premissas iniciais, uma boa ideia pobremente transmitida não cria interesse. Sem interesse não existe continuidade. Pode acontecer por falta de capacidade do emissor ou por má-interpretação ou falta de vontade do recetor. Independentemente, o resultado é o mesmo.

O transfer para o treino é desde logo óbvio. É preciso saber construir exercícios para induzir comportamentos. Persuadir através de situações de jogo em treino para provocar o surgimento da ideia. Se determinado exercício conseguir obter do jogador o pretendido, com menor forcing do treinador, então o resultado será uma adoção mais natural do mesmo, mais permanente e mais eficaz. O jogador descobre por si próprio o caminho que deve seguir, sem precisar de procurar fontes exteriores para o fazer. Torna-se mais consciente, mais capaz e isso beneficia o todo.

É preocupante continuar a ver treinadores, especialmente em escalões mais jovens onde a capacidade de compreensão do jogo é menor, continuarem a apostar numa transmissão de ideias completamente unidimensional. Vocacionada, acima de tudo, para uma aquisição unilateral de conhecimento. Sem liberdade para os jogadores o descobrirem, ramificando-se a falta de autonomia e responsabilidade.

Induzir atitudes é bem mais complicado que simplesmente "mandar fazer", mas compensa pelo seu efeito duradouro. Por muita força que a lógica argumentativa possa ter, mesmo perante a vontade de aprender, não se equipara a uma experiência rica e positiva de auto-descoberta. O ser humano foi e sempre será regido por emoções. Cabe a quem lidera a tarefa de orientar essas emoções, dando-lhes uma direção que beneficie quem os rodeia.

1 comentário:

Anónimo disse...

Já tinha saudades.