A carreira de um treinador é madrasta para quem pretende alcançar a perfeição. Ao lidar frequentemente com situações fora do seu controlo e com a obrigação de muitas vezes encarar os objetivos propostos com armas inferiores ao que se precisa, surge a necessidade da reinvenção... constante. Lesões, castigos, vendas, seja o que for, haverá sempre algo a bloquear o sonho do jogar perfeito.
Vejamos a situação atual de Jorge Jesus no Benfica. Do plantel campeão do ano passado, Garay, Siqueira e Markovic (praticamente) já saíram. Rodrigo e André Gomes estão vendidos e o mais certo é ficarem de fora das opções para o plantel a curto-prazo. Oblak está com um pé no Valência e a situação de Enzo Perez e Gaitán continua por clarificar. Ou seja, do 11 base da época passada, Jorge Jesus pode vir a perder mais de metade.
No entanto, os objetivos mantêm-se: Campeonato, Taça e brilharete nas competições europeias. Dê por onde der, Jesus vai ser obrigado a reconstruir ideias e princípios de jogo, com 95% de certezas que a qualidade global do plantel deste ano vai ser inferior ao do anterior que foi, provavelmente, o melhor desde que chegou ao Benfica.
Tendo Jesus até agora nunca abdicado do deu 4-4-2, fica no ar a dúvida de como irá organizar as ideias do seu Benfica. Taticamente, o ano passado foi o melhor até agora, até porque a qualidade individual dos jogadores assim o proporcionou. Talvez a melhor equipa da Europa a defender com poucos elementos, essa qualidade permitia ao Benfica atacar com muitos, mantendo o equilíbrio no momento da perda e reagia invariavelmente da melhor maneira. Mérito do treinador e da capacidade de adaptação dos jogadores às situações de jogo.
Uma das grandes evoluções do Modelo de Jesus no último ano foi ter os médios-ala mais próximos do centro do terreno. Existiam mais opções por dentro, os laterais davam largura e o jogo benfiquista fluía duma maneira que não era vista desde 09\10. Grande parte desse salto qualitativo foi ter Markovic e Gaitán nos flancos, jogadores que pelas suas características "obrigaram" a essa mudança. Era notório, por exemplo, aquando da entrada de Salvio no onze, o decréscimo no jogar do Benfica. O argentino procura mais situações de 1x1, muitas delas em direção à linha final e apesar de dar mais verticalidade perde noutros (vários) momentos para o sérvio. Saindo Markovic e Gaitán, Jesus será obrigado a criar princípios que retirem o melhor dos novos titulares, mas fica a dúvida se isso irá obrigar a um jogo ofensivo mais largo, com apoios mais distantes, e por consequência, com menos controlo da Transição e dos espaços.
Quantos dos que saíram (ou sairão) apanharam Jesus de surpresa? E para colmatar essas saídas, quantos dos que chegaram (ou chegarão) são exatamente aqueles que o treinador pediu? Assim é a vida de um treinador. Fatores internos e externos obrigam a haver uma constante renovação nas ideias de jogo, adaptando-se às circunstâncias e sempre com os objetivos lá em cima. Difícil? Sim. Apaixonante? Sem dúvida. É um trabalho sem fim, com um objetivo utópico e que por muito complicado que seja a certas alturas, é como uma droga: quanto mais se entranha mais falta se sente quando não lá estamos.
3 comentários:
o jupp acabou em 6º no slbbbbb
É verdade mas ele acaba por ser um exemplo no que toca à longevidade no futebol.
"É um trabalho sem fim, com um objetivo utópico e que por muito complicado que seja a certas alturas, é como uma droga: quanto mais se entranha mais falta se sente quando não lá estamos."
Na sua última época conseguiu os melhores resultados da carreira e com uma paixão pelo jogo tão grande ou maior do que quando começou a treinar.
Por ventura terá claudicado no Benfica por falta de meios qualitativos. Acho que é gritante esse factor, salta à vista até dos leigos.
Relativamente ao Jorge Jesus, sei de fonte segura que irá sair em Janeiro. Não posso adiantar para que clube vai, mas fica aqui em primeira mão.
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