quarta-feira, 23 de julho de 2014

O entendimento inevitável

Já por aqui falei sobre o alheamento e desvalorização a que os principais clubes de futebol portugueses votaram os assuntos relacionados com a Liga por ocasião das recentes eleições para os seus órgãos dirigentes. É um alheamento que decorre do esvaziamento de competências da própria Liga e que já tem alguns anos. Sem a arbitragem, a disciplina e a justiça é convicção dos principais clubes que as matérias que ainda competem à Liga não justificam o seu envolvimento direto. A Liga ficou, assim, à mercê dos clubes pequenos, de vistas curtas, subordinados a lógicas de protagonismos e egos pessoais. Ficou, em suma, um caos. E os clubes com maiores responsabilidades assistindo, impávidos, numa atitude de quem acredita que os problemas existentes estariam condenados a resolver-se sem terem necessidade de utilizar os seus esforços, capacidades e influências.


Não podiam estar mais errados! Há uma matéria fundamental e determinante que ainda reside no âmbito de competências da Liga: a organização das competições. Sem competições não há negócio! E sem orçamento para as organizar não há competições! E hoje a Liga não tem dinheiro. Não tem patrocinadores, não tem abertura legislativa para regular as apostas online, nem tem meios disponíveis para forçar alterações no que respeita aos direitos televisivos. Com o início das competições profissionais agendado para o próximo fim de semana (1ª jornada da fase de grupos da Taça da Liga) ainda ninguém sabe se haverá condições para que elas decorram com normalidade. Não há dinheiro para pagar a árbitros, a funcionários, a delegados e observadores e para a restante panóplia de pequenas despesas imprescindíveis que asseguram a realização dos jogos.

O Governo, via Secretário de Estado do Desporto e da Juventude, manifestou a sua preocupação; a Federação manifestou igualmente preocupação e convocou clubes e Liga para uma reunião com vista ao estabelecimento de uma plataforma de entendimento que promovesse a procura de soluções para o imbróglio gerado no seio da Liga. Essa reunião serviu, na prática, para "puxar as orelhas" aos responsáveis pelos clubes e para os intimar a que se organizem, que se entendam e que resolvam os problemas que criaram.


Os clubes acusaram o "toque" e nasceu uma comissão de trabalho liderada pelos 3 grandes. É assim que funciona o futebol português. Parecem um bando de catraios birrentos que necessitam de uns açoites para se comportarem devidamente e fazerem o que lhes compete.

Paralelamente vai ser interessante acompanhar o posicionamento das principais figuras neste processo. Bruno de Carvalho, que lutou por entendimentos e consensos sem qualquer sucesso e que, birrento, acabou por votar favoravelmente na lista de Mário Figueiredo, como se posicionará agora? Pinto da Costa, que aparece ao lado dos contestatários em manifestações em bombas de gasolina mas que prima pela ausência nos momentos em que se tomam, de facto, decisões, que papel terá? E Luís Filipe Vieira que não perde nenhuma oportunidade de marcar pontos em termos de liderança e sentido de responsabilidade (toda a comunicação social fez questão de realçar que foram dele as ideias de criação desta comissão e da participação ativa dos 3 grandes no processo), que fará quando vierem à tona assuntos em que tenha posições discordantes dos restantes?

A não perder os próximos episódios desta triste novela...

Declarações de Hermínio Loureiro, à saída da reunião entre a FPF e os clubes:


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