terça-feira, 22 de julho de 2014

Sporting 14/15: Primeiras impressões

A bola já rola na pré-temporada e os clubes já começam a afinar as "máquinas" e a deixar as primeiras indicações daquilo que será o seu futebol durante a época. O Sporting não é excepção, e já foi possível observar a formação leonina em acção na Taça de Honra da A.F.Lisboa, competição que venceram e onde derrotaram na meia-final o Belenenses por 2-1, e na final o Benfica por 1-0. Estes jogos permitiram também começar a perceber algumas das ideias que Marco Silva pretende implementar no modelo de jogo. Passemos à análise.

Em ambos os jogos, o Sporting dispôs-se no 4-3-3 que já apresentava com Leonardo Jardim, sendo que em alguns momentos do jogo o esquema se transformou em 4-4-2 (nomeadamente no momento defensivo, com André Martins a aproximar-se de Montero e com os extremos a fecharem o seu corredor) e até num 4-2-3-1 (quando em organização ofensiva, com Adrien mais próximo de Rosell, nestes dois jogos, e André Martins mais solto na frente, a aparecer entre linhas e a apoiar de forma mais directa Montero na zona central). No entanto, já foi possível notar algumas diferenças entre o Sporting de Jardim e este "novo" Sporting de Marco Silva. Desde logo, o próprio posicionamento de André Martins. Com Jardim, o médio pareceu sempre demasiado preso a uma dinâmica que o retirava do espaço entre linhas e o obrigava a passar cerca de 80/90% do tempo sem bola e junto ao flanco direito, procurando apenas arrastar marcações e dar profundidade à equipa (procurando o espaço nas costas do lateral adversário, para receber o passe vertical do lateral direito (Cédric), o que acontecia várias vezes por jogo) para de seguida cruzar. Parecia até que, para Jardim, André Martins só possuía verdadeira importância no aspecto defensivo, pelo dinamismo que impõe no jogo e pela capacidade que tem de ler o jogo e perceber qual o momento certo para sair na pressão ao portador da bola. Permitia ao Sporting pressionar alto sem se desequilibrar, aspecto essencial para Jardim, que preza acima de tudo os equilíbrios defensivos nas suas equipas.

Ora, com Marco Silva, estas instruções no aspecto defensivo permanecem. Mas ofensivamente, André Martins já parece outro jogador. Muito mais solto, recua sempre que possível da posição 10 para procurar receber a bola fora do bloco adversário e assumir a construção, aparece mais frequentemente em zonas de finalização (e embora não seja propriamente forte nesse aspecto, até já conseguiu fazer um golo que valeu um troféu ao Sporting) e voltou a estar mais próximo de Montero, combinando mais vezes directamente com o colombiano na zona central. Isto inclusive ajuda a que Fredy se possa soltar mais dos centrais, saia da zona central e procure tocar mais a bola e tê-la mais vezes em sua posse, aspecto que só beneficia o Sporting, visto que o colombiano é extremamente criativo com bola, é muito forte tecnicamente (talvez o melhor avançado do campeonato nesse aspecto) e tem um entendimento do jogo muito acima da média, sabendo sempre quando soltar a bola e tomando quase sempre a melhor decisão para dar continuidade ao ataque leonino.

Outro dos aspectos em que já estão bem presentes os princípios de jogo de Marco Silva são os apoios. Contra o Benfica, em alguns períodos do jogo, foi impressionante ver o Sporting a jogar de forma apoiada em todo o campo (até nos pontapés de baliza já se notam diferenças, com a preocupação de sair sempre com a bola controlada, com os centrais bem abertos, os laterais a dar profundidade e o 6 a vir receber a bola quando as restantes opções estão bem defendidas pelo adversário), com muito critério de passe e com muita fluidez na circulação de bola (foram várias as jogadas em que diversos jogadores jogaram a 1/2 toques, acelerando o jogo). Desde logo, a principal ideia que captei de ambos os jogos, foi a de que o Sporting pretende ter sempre a bola e pretende saber sempre como estar e o que fazer com ela em todos os momentos do jogo. Quer a atacar, quer a defender. A equipa está mais próxima ofensivamente, e é agora mais fácil jogar a bola de pé para pé do que era no modelo de jogo de Jardim, que privilegiava a profundidade e a verticalidade. Além disso, este Sporting já possui outras noções de jogo, e já parece perceber qual o caminho para, mantendo o seu futebol apoiado, desequilibrar a organização defensiva adversária. Em ambos os jogos desta pré-época, foi possível observarmos a equipa a atrair o adversário para um dos corredores laterais (na maioria das vezes o direito) com sucessivas tabelas simples e triangulações, apenas para depois soltar a bola no pivot defensivo (Rosell) que, com a grande qualidade de passe que possui, variava rapidamente o centro de jogo, encontrando facilmente espaço e desequilíbrios (possibilidade de 1x1 para Capel na ala esquerda e por vezes até 2x1, com a subida de Jefferson) na organização defensiva adversária. Isto demonstra uma evolução enquanto equipa naquilo que considero ser um dos aspectos mais importantes para se construir uma equipa de qualidade: a leitura e o entendimento do jogo. Este Sporting parece claramente estar noutro patamar relativamente ao Sporting de Jardim nesses aspectos. E mesmo defensivamente, já surgiram vislumbres de uma evolução. A coesão defensiva sempre foi o forte do Sporting na época transacta. As linhas estavam sempre bem organizadas e equilibradas, as basculações defensivas eram feitas com qualidade e não era fácil penetrar na defensiva leonina quer pela zona central, quer pelos corredores laterais.

Mas nestes dois jogos da Taça de Honra, já foram perceptíveis algumas ideias que poderão levar o Sporting para outro nível também no aspecto defensivo, sobretudo em transição defensiva. Este Sporting pressiona alto também, mas de forma diferente. Não se baseia apenas na capacidade defensiva de André Martins numa primeira fase. Sobe antes as linhas, em bloco, e pressiona de forma organizada, defendendo mais o espaço e não atacando tanto a bola. No jogo contra o Benfica, por várias vezes se viram os laterais do Benfica a serem obrigados a bater longo na frente, pois o Sporting demonstrou-se sempre muito competente na forma como fechou as linhas de passe mais próximas do portador da bola e lhe foi progressivamente encurtando o espaço e forçando o erro. Entrando na comparação, podemos dizer que o Sporting de Jardim atacava forte o portador da bola, mas ocasionalmente dava liberdade àqueles próximos dele. Já este Sporting parece "sufocar" o portador da bola e tudo em seu redor, quase parecendo que, de repente, o campo encolhe e passa a ter apenas meia dúzia de metros. Apontamentos muito interessantes.

Em suma, as primeiras impressões sobre este Sporting são claramente positivas. A equipa mantém a consistência e a coesão que trazia da época passada, e numa fase ainda embrionária da época, demonstra já evolução em vários aspectos do jogo, e dá indicações de ainda poder evoluir muito mais e de poder rapidamente chegar a um patamar superior em termos qualitativos. Logicamente, são apenas as primeiras impressões, e ainda existe imenso trabalho por fazer. Mas de uma coisa não tenho dúvidas: o Sporting está claramente no caminho certo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito André Martins, pouco Sporting. Bem escrito mas podia ser mais generalizado o comentário.