quarta-feira, 11 de junho de 2014

A Liga dos Pobres Cavalheiros

Numa altura em que o país desportivo (e o outro) se dedica aos preparativos para a campanha que se espera gloriosa dos nossos rapazes em terras de Vera Cruz, capitaneados pelo herói nacional CR7, qual reencarnação de Pedro Álvares Cabral, que há mais de 500 anos ofereceu novas terras ao mundo, andam os nossos dirigentes associativos entretidos com mais um episódio digno de figurar em plano de destaque no anedotário futebolístico nacional: as eleições para a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP).

É o culminar de um processo que se arrasta desde a entrada em vigor da Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto (janeiro de 2007) e posterior publicação do Regime Jurídico das Federações Desportivas (dezembro de 2008). Estes diplomas legais estruturantes conduziram, na prática, ao esvaziamento de funções, competências e atribuições das Ligas, transferindo-as para as Federações. Em suma, tratou-se da alteração das áreas de poder, o que, no caso do Futebol foi particularmente evidente. Os agentes futeboleiros nacionais reagiram como se esperava. Como o que interessa, no fundo, é influenciar as comissões de arbitragem, disciplina e justiça, e como estas passaram para a esfera da Federação, valorizou-se mais a composição dos órgãos federativos do que a própria Liga.

Foi esta desvalorização para a composição da estrutura diretiva da LPFP que permitiu a eleição, em janeiro de 2012, do atual presidente Mário Figueiredo que, apesar de apresentar algumas propostas meritórias, recolheu a maioria dos votos devido à promessa de não haver descidas na 1ª Liga que entretanto decorria, com subsequente alargamento dos quadros competitivos. O não cumprimento dessa promessa, por oposição clara da FPF, destruiu imediatamente toda a sua precária base de apoio, tornando-o num mau presidente por não corresponder aos anseios de quem o elegeu. E assim se passaram 3 anos em que as broncas e polémicas não foram maiores (e, mesmo assim, ainda surgiram bastantes) porque, de facto, a Liga já não manda nada.

Com a aproximação de novo ato eleitoral, depois de ter sido evidente que o presidente da Mesa da Assembleia Geral da LPFP não estaria disponível para marcar eleições antecipadas, começaram a contar-se espingardas e os egos e ânsias de protagonismo tão presentes no mundo do futebol vieram à tona. O reduzido interesse dos principais clubes nacionais nestas eleições deu azo a que se polarizassem as intenções de candidatura e, a certa altura, dava a entender que iriam haver dezenas de listas concorrentes tal eram as vontades expressas por figuras mais ou menos mediáticas. A redução a 4 listas foi um processo moroso e trabalhoso de bastidores, de alianças, compromissos, estratégias e influências.

Mas surge como pertinente a seguinte questão: se a Liga já não manda nada, o que faz mover toda esta gente? Há quem aponte a questão dos direitos de transmissão televisiva como motor de toda esta agitação. Uma falsa questão, no meu entender. Por duas razões: primeiro porque a maioria dos clubes está presa a contratos celebrados com a Olivedesportos por largos anos, amarrados a adiantamentos que a empresa do prestimoso Joaquim Oliveira concedeu para aliviar os cofres paupérrimos dos clubes; e em segundo lugar porque o clube determinante no que respeita a audiências televisivas de jogos de futebol cá do burgo já seguiu o seu próprio caminho, desvinculando-se da Olivedesportos sem necessitar da LPFP para nada.

Só vislumbro, assim, uma resposta: necessidade absoluta de protagonismo e de alimentação exacerbada de egos mais ou menos medíocres. E é no meio desta mediocridade que estamos. Uma mediocridade que resulta na existência de duas listas diferentes que apresentam o mesmo líder e na insuficiente composição de listas. Uma mediocridade para a qual o rigor e a competência são conceitos vagos e menores. Uma mediocridade para a qual são arrastados consciente ou inconscientemente personalidades até aqui dignas de crédito e que, de alguma forma, acabam manchadas como Rui Rangel ou Fernando Seara.

E se alguém pensa que uma eventual reeleição do atual presidente encerra o processo por agora, é bom que tire o cavalinho da chuva. Cá para mim ainda a procissão vai no adro...

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