
É o culminar de um processo que se arrasta desde a entrada em vigor da Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto (janeiro de 2007) e posterior publicação do Regime Jurídico das Federações Desportivas (dezembro de 2008). Estes diplomas legais estruturantes conduziram, na prática, ao esvaziamento de funções, competências e atribuições das Ligas, transferindo-as para as Federações. Em suma, tratou-se da alteração das áreas de poder, o que, no caso do Futebol foi particularmente evidente. Os agentes futeboleiros nacionais reagiram como se esperava. Como o que interessa, no fundo, é influenciar as comissões de arbitragem, disciplina e justiça, e como estas passaram para a esfera da Federação, valorizou-se mais a composição dos órgãos federativos do que a própria Liga.
Foi esta desvalorização para a composição da estrutura diretiva da LPFP que permitiu a eleição, em janeiro de 2012, do atual presidente Mário Figueiredo que, apesar de apresentar algumas propostas meritórias, recolheu a maioria dos votos devido à promessa de não haver descidas na 1ª Liga que entretanto decorria, com subsequente alargamento dos quadros competitivos. O não cumprimento dessa promessa, por oposição clara da FPF, destruiu imediatamente toda a sua precária base de apoio, tornando-o num mau presidente por não corresponder aos anseios de quem o elegeu. E assim se passaram 3 anos em que as broncas e polémicas não foram maiores (e, mesmo assim, ainda surgiram bastantes) porque, de facto, a Liga já não manda nada.
Com a aproximação de novo ato eleitoral, depois de ter sido evidente que o presidente da Mesa da Assembleia Geral da LPFP não estaria disponível para marcar eleições antecipadas, começaram a contar-se espingardas e os egos e ânsias de protagonismo tão presentes no mundo do futebol vieram à tona. O reduzido interesse dos principais clubes nacionais nestas eleições deu azo a que se polarizassem as intenções de candidatura e, a certa altura, dava a entender que iriam haver dezenas de listas concorrentes tal eram as vontades expressas por figuras mais ou menos mediáticas. A redução a 4 listas foi um processo moroso e trabalhoso de bastidores, de alianças, compromissos, estratégias e influências.
Mas surge como pertinente a seguinte questão: se a Liga já não manda nada, o que faz mover toda esta gente? Há quem aponte a questão dos direitos de transmissão televisiva como motor de toda esta agitação. Uma falsa questão, no meu entender. Por duas razões: primeiro porque a maioria dos clubes está presa a contratos celebrados com a Olivedesportos por largos anos, amarrados a adiantamentos que a empresa do prestimoso Joaquim Oliveira concedeu para aliviar os cofres paupérrimos dos clubes; e em segundo lugar porque o clube determinante no que respeita a audiências televisivas de jogos de futebol cá do burgo já seguiu o seu próprio caminho, desvinculando-se da Olivedesportos sem necessitar da LPFP para nada.
Só vislumbro, assim, uma resposta: necessidade absoluta de protagonismo e de alimentação exacerbada de egos mais ou menos medíocres. E é no meio desta mediocridade que estamos. Uma mediocridade que resulta na existência de duas listas diferentes que apresentam o mesmo líder e na insuficiente composição de listas. Uma mediocridade para a qual o rigor e a competência são conceitos vagos e menores. Uma mediocridade para a qual são arrastados consciente ou inconscientemente personalidades até aqui dignas de crédito e que, de alguma forma, acabam manchadas como Rui Rangel ou Fernando Seara.
E se alguém pensa que uma eventual reeleição do atual presidente encerra o processo por agora, é bom que tire o cavalinho da chuva. Cá para mim ainda a procissão vai no adro...
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