segunda-feira, 23 de junho de 2014

Fim de ciclo

Com o resultado de ontem, e a mais que provável eliminação, torna-se evidente que chegamos a um fim de ciclo em várias vertentes. Vamos por partes.

Em primeiro lugar, representa um fim de ciclo para esta geração, jogadores como Bruno Alves, Raúl Meireles, Ricardo Costa e Hélder Postiga (estes os mais óbvios) terão tido uma última oportunidade de jogar pela selecção Nacional. No entanto, o futuro está assegurado, assim ajudem os clubes, com uma geração que parece bem mais talentosa que esta.


Será também o fim de ciclo (assim o espero), para esta ideia dos estatutos e da experiência (viu-se ontem como teria dado jeito a inexperiência de Wiliam mais tempo), e o surgir de uma época onde os jogadores são convocados de forma meritória e de acordo com aquilo que podem oferecer à equipa num curto espaço de tempo, que é a forma como estas competições são jogadas.

Quem também está em fim de ciclo, é Paulo Bento. Incrível que tenhamos tantas lesões em tão pouco tempo, o que não pode ser coincidência, incrível que não se consiga ter um pensamento colectivo em momento algum do jogo. Repare-se na imagem, vemos Bradley de frente para a linha defensiva portuguesa, com tempo e espaço para colocar um passe nas costas no colega que ataca a profundidade. Miguel Veloso, como é seu apanágio, acha que a pressão ao portador da bola se faz com os olhos a mais de 10 metros, talvez na esperança que este fique a admirar a beleza do Miguel, mas, o pior nem é isso. Repare na resposta dos 4 defesas de Portugal, é incrível como fazem coisas contrárias, como tem pensamentos e análises tão diferentes de um lance, não podem treinar este tipo de situações. Enquanto Ricardo Costa, e bem porque Bradley não está pressionado, a bola não está "coberta", tira a profundidade, Bruno Alves fica parado, à espera não se sabe bem do quê. Note ainda o excessivo espaço entre os 4 defesas portugueses, que vai permitindo espaços para que os avançados ataquem a profundidade (aconteceu muitas vezes ontem) e ainda, a intenção dos EUA de criarem superioridade numérica do lado esquerdo português.


Mas não é só no momento defensivo que Portugal não faz ideia do que anda a fazer, também ofensivamente é tudo muito rudimentar, consiste em jogo exterior para cruzamentos, na esperança que um defesa falhe ou que apareça alguém a dar uma cabeçada, e ainda bastantes remates de fora da área, na esperança que um deles entre.

Para terminar, e para mim esta parte é a mais importante, espero que seja o fim de ciclo do paradigma que se vive agora na selecção. Desde 2010 que assistimos a uma equipa de grandes jogadores mas que está formatada para jogar como uma equipa pequena, como a Arménia. Desde 2010 que se assiste a uma Ronaldização, acha-se que Ronaldo é perigoso com 30 metros para correr (o que é bastante redutor, pode não ser muito criativo no passe no último terço, mas a jogar dentro de área, a arranjar espaço para chutar ou a pedir a bola nas costas, mesmo nos últimos metros e sem espaço, é fora de série) e então toca a mudar a mentalidade, há que privilegiar menos a posse, menos o controlo em detrimento da vertigem, da pressa e toca a jogar para o Ronaldo e não com o Ronaldo, sendo que mesmo este acusa bastante essa pressão, com decisões erradas umas atrás das outras, isto porque parece que só ele existe, que só ele tem qualidade. Não me parece de todo a melhor forma de aproveitar Ronaldo, que só tem a ganhar se Portugal jogar mais no último terço, mais perto da baliza adversária, se voltarmos ao tempo de Figo e Rui Costa e do próprio Ronaldo. Para além disso, esta mudança de paradigma servirá mais facilmente para integrar todo o potencial criativo que aí vem com Iuri, Bernardo e Gonçalo, por exemplo.

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