terça-feira, 10 de junho de 2014

O WM de Chapman


Numa era em que a maioria das equipas de topo do futebol mundial usava o 1:2:3:5, tendo este sido apelidado de 'sistema clássico' por ter perdurado nos relvados a nível internacional durante cerca de 50 anos, surgem nos anos 30 três treinadores que mudam a história das ideias do jogo: Hugo Meisl, Vittorio Pozzo e Herbert Chapman.

Pode parecer coincidência o facto de três nomes históricos desta dimensão terem surgido num período tão semelhante, mas desenganem-se: existiu algo que despoletou esta nova necessidade de repensar e recriar o futebol, tentando alterar o marasmo de 50 anos de inércia no pensamento táctico: a lei do fora-de-jogo. Em 1925 a Football Association altera a regra para a que conhecemos actualmente, acabando com a anterior que mencionava a necessidade de existirem dois jogadores entre o receptor da bola e o guarda-redes. Por motivos lógicos isto aumentou substancialmente a quantidade de golos por jogo, e desperta a tendência que caracteriza a evolução dos sistemas tácticos ao longo dos anos: o aumento do número de defesas e a redução do número de avançados.

Meisl, maestro-mor do wunderteam austríaco dos anos 30, e Pozzo, bi-campeão mundial nos anos 30 com as ideias precursoras do catenaccio ao leme da selecção italiana, ficarão para outro dia. Falaremos hoje de um dos treinadores mais míticos da história do futebol britânico: Herbert Chapman. Chapman recua um dos médios do sistema clássico para o centro da defesa e baixa dois dos avançados, formando assim o seu conhecido sistema de WM. Não é difícil perceber que esta nomenclatura representa as linhas do sistema:


O WM do Chapman é o percursor de todos os sistemas que hoje conhecemos e rasga o marasmo de 50 anos de inércia criativa a nível táctico. Surge pela primeira vez um equilíbrio numérico minimamente homogéneo entre os sectores, existindo cinco jogadores com missões predominantemente ofensivas e outros cinco com missões defensivas. A marcação individual é pela primeira vez vista como uma preocupação colectiva: os dois defesas tradicionais do sistema clássico deslocam-se para fora para marcar os extremos, o defesa mais central marca o avançado mais adiantado, e sobram dois médios recuados que procuram marcar individualmente os dois avançados menos adiantados do sistema clássico.
O sistema de Chapman concretiza uma organização que repartia as tarefas tácticas dos jogadores com relativa precisão, exprimindo a superioridade do jogo colectivo relativamente ao jogo individual, constituindo assim uma etapa chave na evolução do carácter racional e reflectido do jogo de futebol. É marca deste sistema relativamente aos anteriores a maior repartição do esforço físico, consequência da racionalização mais equilibrada das missões tácticas dos jogadores. 

Após vencer quatro campeonatos e revolucionar a história das ideias do jogo, Chapman sucumbe ao que parece ter sido uma pneumonia fulminante em 1934 ainda no cargo de treinador do Arsenal, três dias depois de ter assistido a um jogo da equipa de reservas. Em Dezembro de 2011, passados 125 anos do seu nascimento, o Arsenal inaugura a sua estátua nos Emirates, que guarda, vigilante, ao lado das estátuas de Thierry Henry e de Tony Adams.

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