domingo, 29 de junho de 2014

O Aluno e o Mestre

Acabou o sonho do Mundial para o Chile. A selecção de Alexis Sánchez, Vidal e companhia foi eliminada pelo Brasil nas grandes penalidades, após um jogo espectacular, com duas selecções de grande qualidade e com muita qualidade individual em campo. Mas, além das estrelas presentes dentro das 4 linhas, existem também estrelas na parte de fora do rectângulo de jogo cuja influência sobre quem está lá dentro é enorme. É o caso de Jorge Sampaoli, seleccionador chileno.

Sou um fã declarado de Sampaoli desde os seus tempos na Universidade do Chile. Na altura, a formação chilena jogava e encantava pela América do Sul, vencendo a Copa Sul-Americana em 2011 e chegando às meias-finais da Copa Libertadores em 2012. E o líder daquela equipa dava nas vistas, pelas ideias alternativas e pela facilidade com que as implementava na sua equipa. Don Sampa é mesmo assim: tem uma facilidade tremenda em fazer os seus jogadores entenderem aquilo que pretende. Uma das suas muitas qualidades. É o próprio que afirma acreditar que unir os jogadores pelo prazer de jogar futebol e não por obrigação é o primeiro e o mais importante passo para fazer os jogadores darem 110%. Hoje (ontem) a sorte não quis nada com ele. Fez tudo o que estava ao seu alcance, mas a sorte traiu-o. Primeiro, no último lance do prolongamento, quando Pinilla atira à barra, e depois, no último penalti, que Jara cobra "bem de mais" e atira ao poste. 2 sinais de que este não era o dia do Chile, por muito que tenham procurado o sucesso.

Mas a passagem era merecida. A forma como esta selecção de Sampaoli se apresenta em campo é deliciosa. Desde logo, pela atitude. O Chile encara todos os adversários da mesma forma: ao ataque. É uma equipa que não gosta de defender, mas sim de ofender o adversário. Atacando-o incessantemente, superiorizando-se fisicamente e demonstrando uma classe superior com bola. Defensivamente, são incansáveis. Uma pressão alta e sufocante, durante todo o jogo, de forma colectiva. Pressionam, não só a bola, mas também as linhas de passe mais próximas do portador. E fazem-no em qualquer zona do campo. A sua ousadia defensiva não conhece limites, tanto em termos colectivos, como em termos individuais. E depois, ofensivamente, jogam um futebol bonito, rápido, vertical, apoiado e com uma excelente relação com a bola. Atacam maioritariamente pelos corredores laterais, mas não têm problemas em fazê-lo também pela zona central. Intensidade, verticalidade, bola no pé. Percebe-se porque razão Sampaoli é identificado como um dos discípulos de "El Loco", Marcelo Bielsa.

E é exactamente aqui que o título deste artigo se envolve no corpo do texto. O "aluno" Sampaoli, até aqui, já tinha demonstrado seguir da melhor forma o "mestre" Bielsa. Mas Don Sampa é especial. Segue a filosofia "Bielsiana", mas acrescenta-lhe outra qualidade defensiva e outra intensidade (que já de si é imensa). E acrescenta-lhe também outras ideias. Inova. Pensa o futebol de uma forma única. Cria uma nova filosofia. A filosofia "Sampaoliana".

Será este um dos casos em que o aluno ultrapassa o mestre? O tempo o dirá. Mas estou tentado a apostar que sim.

Sem comentários: