sexta-feira, 13 de junho de 2014

Prazeres

"Não há nada mais perigoso que não arriscar" – Pep Guardiola


Sentimento agradável que alguma coisa faz nascer em nós, é este o significado da palavra prazer no dicionário de língua portuguesa. Para além desta definição é possível encontrar outros termos como, gosto, divertimento ou alegria. Confesso que uma das coisas que me dá mais prazer é acompanhar jogos de formação durante o fim-de-semana, desde sub-9 até aos sub-19, em grande parte da zona norte, muita das vezes sem conhecer qualquer jogador, sempre à procura de encontrar qualquer coisa de diferente, de original. No entanto, e em grande parte das vezes, não se encontra nada disso, nada de diferente, nada de original, porque, e para mim, falta o essencial em quem joga, o prazer, o gosto, o divertimento.

É impossível que miúdos de 12 anos, por exemplo, que passam o jogo a correr atrás de adversários, ou a chutar para a frente sem qualquer nexo retirem prazer do que estão a fazer. É impossível que esses mesmos miúdos não queiram fazer uma cueca, um cabrito, um calcanhar, arriscar no 1x1, algo de original ou diferente, mas fazem-no? Claro que não. É triste que assim seja, porque em muitos casos estamos a falar de miúdos que fazem imensos sacrifícios para jogarem. Muitas vezes acordam de madrugada, noutras jogam em condições meteorológicas que não lembram a ninguém, por vezes com material que não presta, tudo isto pelo prazer de dizerem que fazem parte de uma equipa, de um grupo, de um clube, mesmo não tendo prazer nenhum no que jogam, aliás, arriscaria a dizer que sentem bem mais prazer, gosto e divertimento quando jogam na escola, na rua, em casa, sem pressões.

É fácil encontrar culpados. Começa em quem dirige, que muita das vezes, e mesmo em escalões mais jovens, quer ganhar em qualquer cenário e de qualquer forma e colocam demasiada pressão em quem treina para que apenas ganhe, e acaba em quem (des)treina, que mesmo quando essa pressão não existe ou é menor, gostam é de ganhar, e acham que só ganham se estiver tudo na ordem, tudo dentro do seu controlo, se ninguém arriscar nada de diferente porque isso já foge do controlo. É engraçado porque depois são estes treinadores, ou muitos destes, que dizem que querem jogadores criativos quando nem sequer os deixam ser criativos, nem sequer os deixam ser originais.

Se quando era uma criança o treinador do Messi tivesse dito que ele não podia fintar, será que hoje tínhamos o mesmo jogador? Ou se o treinador do Quaresma tivesse dito para ele não fazer aquilo com a parte de fora do pé, será que tínhamos trivelas? Ou ainda, será por acaso que atravessamos uma das maiores crises a nível da formação no que a verdadeiros talentos diz respeito, que só agora parece estar a ser colmatada.

"Só é necessária a ordem que favorece a criatividade. Não a que limita, e cria um efeito inibidor nos jogadores." - Menotti


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